Comunidades Fundo de Pasto reafirmam importância das políticas públicas para fortalecimento da tradicionalidade

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Na primeira semana deste mês de junho foi realizado nas Comunidades Tradicionais de Fundo de Pasto de Sítio do Zacarias, Sitio do Meio, Logradouro e Boa Vista do Silvano, no município de Uauá, e nas comunidades de Vitorino e Parente, município de Curaçá, atividades coletivas para discutir a temática: Tradicionalidade. A iniciativa integra o cronograma do projeto de Assessoria Técnica e Extensão Rural – Ater para povos e comunidades tradicionais de Fundo de Pasto – Ater PCT.

O debate sobre a tradicionalidade refletiu as manifestações culturais que já existiram e que ainda estão presentes nas comunidades de Fundo de Pasto, que passam de gerações em gerações, e desta forma perceber algumas transformações que ocorreram. Neste sentido, foram expressos os costumes, comportamentos, memórias, crenças, hábitos, moral, conhecimentos, artes, além do modo de produção, tudo que faz parte da vida das comunidades que tradicionalmente ocupam estas terras e territórios.
Odaísa Dias da Silva, da comunidade de Vitorino, reconhece a importância da participação dos/as jovens nesses espaços: “eu como jovem não quero vê essas tradições acabar, me vejo com o papel de reunir as pessoas, procurar as entidades e manter os nossos costumes e tradições de nossa localidade”.

Políticas Públicas – Nos trabalhos de grupo para debater as tradições do passado e do presente, se observa que os avanços nas comunidades ocorreram nos últimos anos, quando os governos criaram políticas públicas para o campo, a exemplo de programas de eletrificação rural, acesso à água, através dos programas de cisternas, acesso a crédito, etc. “Meus filhos não viram eu pegar um barril de água, as mulheres aqui saiam cinco horas da manhã para buscar água no rodeadoro, fonte de água, mas hoje nossas crianças não sabem, pegam água da cisterna ou da torneira”, diz Dona Dolores Lina da Silva, presidenta da associação de Logradoro, ao relatar as conquistas da comunidade.

A moradora lembra a migração de muitas famílias que iam para outros lugares em busca de trabalho: “Chegou um tempo que tive que ir embora para Uauá por que não tinha água para beber, mas quando a água veio para a comunidade em 2005, chamei o marido e voltamos para a comunidade, ainda sem energia, e em 2010 a energia chegou, mas o mais importante era a água”.

Seu Henrique Gomes, também da comunidade de Logradouro, acredita que “todas essas reflexões servem para as pessoas hoje dá valor as melhoras que está passando, pois tudo nessa vida é assim. ‘Vede tudo e retei o bem’, pois tudo você tem que ver e tirar o proveito do que foi bom, então aquilo que você passou que foi ruim dê valor hoje o que você tá passando, vamos dizer: as melhorias, as benfeitorias, as facilidades, as coisas ruim agente vai deixando de lado, e dá valor as coisas boas”, reforça o agricultor.

A partir desta atividade foi feita a reflexão acerca da resistência destas comunidades empermanecer em suas terras e territórios, mesmo sofrendo ameaças. Estas, em grande parte, eram pela falta de políticas públicas, que garantisse o direito destas comunidades de ter acesso a água, energia elétrica, educação, acesso a crédito, assessoria técnica, e ainda a cobiça dos latifundiários. Hoje, essas ameaças são principalmente por parte dos grandes empreendimentos do hidro e agronegócio, mineradoras, grileiros, empresas de energia eólicas, que invadem e roubam as terras e territórios das comunidades Fundo de Pasto.

Neste sentido, mesmo diante de todos os desafios, estas comunidades reconhecem que hoje são mais felizes, no entanto, se preocupam com as novas gerações, que precisam continuar lutando pela defesa das terras e territórios. “Eu to com 80 anos, nasci e me criei aqui, a mais velha que tem aqui nesta sala é eu, e nasci dentro do sofrimento, mas hoje não, hoje eu tô bem, a comunidade hoje é mais feliz”, celebra Dona Maria Sena da Silva, mais conhecida como Dona Lira, da comunidade de Sitio do Silvano.

É esse sentimento de pertencimento das pessoas às comunidades, que as mantém firme na defesa do jeito de viver, que envolve todas as tradições culturais que vão desde a preservação da Caatinga até as formas de geração de renda sustentáveis como a criação de animais e a produção agrícola. O Projeto Ater PCT conta com recursos do Governo da Bahia, através da Secretaria de Desenvolvimento Rural e executado pelo Irpaa nos municípios de Curaçá, Uauá e Canudos.

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