Coordenador da ASA fala sobre os 10 anos da Articulação

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Em homenagem aos 10 anos da Articulação no Semi-Árido Brasileiro (ASA Brasil), a ASA Potiguar está realizando o projeto Memórias de Um Novo Semiárido*. A ação visa recontar, através do rádio, os passos da Articulação em sua primeira década de atuação. O programa de estréia trouxe uma entrevista com o coordenador executivo da ASA pelo estado de Pernambuco, Aldo Santos. Confira abaixo a transcrição da entrevista.

Quais as recordações que você tem da realidade do Semiárido Pernambucano antes da constituição da ASA?

Aldo – Até o final da década de 1990, as pessoas tinham uma visão do Semiárido a partir da lógica do combate à seca. Essa lógica compreendia a construção de grandes obras de armazenamento d’água, a mendicância das famílias por água e comida, onde as crianças tomavam água dos barreiros com fezes de animais, os fogões de carvão vazios, sem ter o que cozinhar. A condição de pedinte era uma regra geral nas comunidades rurais do Semiárido, situações que sempre tiraram a dignidade do povo do Sertão. Nessa memória, também estão as viúvas da seca, cujos maridos migravam para outros estados em busca de melhores condições para suas famílias. Elas arcavam sozinhas com o trabalho de busca da água e o alimento para seus filhos e filhas. Toda essa miséria sempre manteve a “Indústria da Seca”, que enriqueceu muita gente. Muitas políticas vinham para favorecer os latifundiários e o povo realmente necessitado ficava à mercê dos favores destes mais poderosos. Esse tempo se constituiu como um verdadeiro genocídio no Semiárido. Muitas mulheres, homens e crianças, morreram em virtude dessas condições sociais críticas. São incontáveis os cemitérios clandestinos que existem nos estados do Semiárido, pois, os entes morriam e as famílias enterravam ao lado da casa, por não terem se quer condições de fazê-lo em locais mais específicos. Era um verdadeiro cenário de guerra, de condições sub-humanas.


Como foi construída a concepção de Convivência com Semiárido? 

Aldo – No universo dos problemas sociais que afetavam o Semiárido. Organizações como igrejas, sindicatos, cooperativas e vários representantes da sociedade, através do Fórum Seca, discutiram e chegaram à conclusão que a seca era uma realidade do Semiárido, com a qual era preciso conviver e não combater. Quando alguém me pergunta se a ASA tem 10 anos, eu respondo que ela é mais velha que a ASA Brasil, isso porque esse Fórum Seca desencadeou um grande debate, denominado Fórum Nordeste e, por fim, chegou à Brasília para um diálogo com o poder público. Entendemos que era necessário combater a pobreza, criando mecanismos para que as pessoas pudessem conviver com as condições naturais da região. Então fomos beber na fonte da sabedoria do povo local, na sua força, resistência e cultura. Fomos conhecer melhor o que eles já faziam, as alternativas

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