Kleber Nunes | ASACom
Famílias agricultoras do Semiárido são integradas ao Sistema Nacional de Sementes e Mudas
Camponeses dos estados de AL, BA e PB foram capacitados pelo Projeto Redeser

Famílias agricultoras e guardiãs da biodiversidade do Semiárido estão contribuindo com o Sistema Nacional de Sementes e Mudas (SNSM) do governo federal e fortalecendo a rede de casas de sementes e viveiros de mudas da Caatinga. O acesso à plataforma é considerado estratégico para o combate à desertificação, que ameaça a região, e para a organização dos camponeses responsáveis pela produção de florestas e agroflorestas sustentáveis.
Esse é o resultado de um processo de formação que começou com um webinar em abril e foi concluído com um ciclo de cinco oficinas realizadas em maio. As atividades fazem parte do Projeto Revertendo o Processo de Desertificação nas Áreas Suscetíveis do Brasil: Práticas Agroflorestais Sustentáveis e Conservação da Biodiversidade (Redeser).
Ao todo, 61 pessoas foram capacitadas nos encontros presenciais que aconteceram nos municípios de Uauá (BA), Várzea (PB) e Delmiro Gouveia, Olho D’Água do Casado e Piranhas, em Alagoas. As formações tiveram o apoio dos técnicos do Serviço de Assessoria a Organizações Populares Rurais (Sasop), da Ação Social Diocesana de Patos por meio do Programa de Promoção e Ação Comunitária (Propac) e da Cooperativa dos Pequenos Produtores Agrícolas Bancos Comunitários de Sementes (Coppabacs). Todas integrantes da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA).

De acordo com o relatório de avaliação do projeto, as oficinas atingiram os objetivos esperados devido à metodologia participativa com debates e aulas práticas e teóricas sobre o SNSM.
“[As oficinas] aprofundaram aspectos relacionados a temas afins, como as leis vigentes sobre sementes e mudanças à luz da realidade da agricultura familiar e das redes locais e regionais de sementes e mudas”, diz o documento.
Por fim, os eventos de formação sobre o SNSM, segundo a coordenação do Redeser, “também colaboraram para trazer novo ânimo e reciclagem de conhecimentos, com novas informações e perspectivas para os assessores de campo e as famílias agricultoras, que se somam ao processo do diagnóstico das casas e bancos de sementes”. O estudo será divulgado em agosto.
Em entrevista à ASA, no mês passado, o diretor do Departamento de Combate à Desertificação do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Alexandre Pires, explicou que esse levantamento das casas e bancos de sementes será estratégico para a recuperação da Caatinga.
“Queremos incorporar as sementes nativas da Caatinga dentro das casas comunitárias de sementes e, com isso, ter uma base de recursos genéticos para os projetos de restauração do bioma, sejam eles demandados pelo setor privado, seja por projetos apoiados pelo governo federal e iniciativas de compensação ambiental”, afirmou Alexandre.
Sobre o Redeser
O Redeser é uma iniciativa do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) liderada pela ASA, por meio do Programa Sementes do Semiárido, com o apoio da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). O projeto foi relançado em setembro de 2023 depois de quatro anos paralisado pelo governo Bolsonaro.
Ao todo, o Redeser destina R$ 19 milhões do Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF, na sigla em inglês) para mitigar a desertificação no Semiárido com práticas agroflorestais sustentáveis e de conservação da biodiversidade.
As ações são executadas por 28 organizações sociais da ASA, que atuam em 14 municípios nos territórios do Araripe (Ceará), Xingó (Alagoas), Sertão do São Francisco (Bahia) e Seridó (Paraíba e Rio Grande do Norte). O projeto também conta com a cooperação de prefeituras e governos estaduais.
De acordo com o MMA, o foco é a implementação de Sistemas Agroflorestais (SAF) e práticas de Gestão Integrada dos Recursos Naturais (GIRN) — iniciativas que têm potencial de promover a agroecologia e a convivência com o Semiárido. A expectativa é que mais de 13 mil hectares sejam geridos de forma sustentável e cerca de 200 famílias sejam beneficiadas.
Outro impacto esperado é a ampliação da oferta de alimentos saudáveis, que serão disponibilizados, por meio do mercado local, para os beneficiários do projeto.