Representantes da ASA de todos os estados do Semiárido assistem ao documentário O Bem Virá, de Uilma Queiroz

O filme mostra 13 mulheres que conheceram a fome e trabalharam nas frentes de emergência contra a seca no Semiárido pernambucano.

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Lívia Alcântara | Asacom

Uma plateia, composta por integrantes da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), amigos e familiares, participou do debate do filme O Bem Virá, roteirizado e dirigido por Uilma Queiroz. O documentário conta a história de 13 mulheres que, em 1983, grávidas, lutaram contra a seca, a fome e o machismo no sertão do Pajeú pernambucano. Longe de reforçar estereótipos que retratam o sertão como uma terra rachada, com animais mortos e pessoas em condições desumanas de vida, a produção ressalta um Sertão que foi transformado pela luta dessas mulheres. 

“Ao mesmo tempo que vemos muitas mulheres fortes, a gente vê também o depoimento de violação do direito das mulheres ao longo do tempo e da história. Eu acho que vocês, essas mulheres do filme e estas mulheres que estão aqui, abriram os caminhos para que a gente pudesse seguir esta luta”, comentou emocionada Roselita Victor, assentada da reforma agrária e integrante da coordenação executiva da ASA pela Paraíba, após assistir o documentário. 

Roselita Victor, integrante da coordenação executiva da ASA, pelo estado da Paraíba.

O evento, que faz parte da programação da Jornada da Terra e aconteceu no Museu do Cinema da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), no Recife, contou com a participação da diretora Uilma Queiroz, e duas protagonistas do filme, Zilda Soares e Lourdes Lima. Zilda foi uma das mulheres que, na época das Frentes de Emergência Contra a Seca, lutou pela possibilidade de que ela e suas companheiras pudessem trabalhar neste projeto. Sem ter o que dar de comer aos seus filhos em casa e, muitas vezes, abandonadas por seus maridos, elas reivindicaram o direito de ter um dos únicos trabalhos pagos que havia naquele contexto. 

“Nós botamos mais de 300 mulheres na rua, gritando: ´queremos comida, estamos com fome, nós precisamos de trabalho, nós queremos trabalhar´. Quando chegamos no sindicato, eles diziam que não podiam alistar mulher. E eu disse: ´então não tem para homem também não´”, relembrou Zilda, com seu jeito festivo, para a plateia. 

Debate sobre o filme O Bem Virá. Foto: Lívia Alcântara | Asacom

A transformação do Semiárido

Também participou do debate Naidson Quintella, da coordenação executiva da ASA pelo estado da Bahia e que atuou como fiscal das frentes de trabalho contra a seca. Para ele, o filme conta uma história que a ASA ajudou a construir, da mudança de um Semiárido da fome, para um Semiárido que produz alimentos e sonhos. 

“A primeira sensação que a gente tem participando desse filme é de ficar em silêncio, porque ele diz praticamente tudo que a gente quer dizer. Nós temos no filme dois Semiáridos. O semiárido da absoluta miséria, fome, seca, da não terra. O Semiárido que aproveitava politicamente a época das estiagens para empobrecer a maioria e enriquecer uma pequena minoria. E participamos hoje de um outro Semiárido, que o filme também traz. O filme é muito feliz, porque ele não fica apenas na coisa de que ´eu sofri´, mas ele mostra que a minha luta resultou em uma modificação”. 

Para Cícero Félix, da coordenação executiva nacional da ASA pelo estado da Bahia, o filme traz a história da gente do Semiárido, contada por ela mesma. 

“Se a gente conseguir fazer com que ele chegue em todos os municípios do Semiárido, eu acho muito interessante, porque é nossa história no cinema, não é qualquer coisa”, festejou Cícero Félix. 

Cícero Felix, integrante da coordenação executiva da ASA, pelo estado da Bahia. Foto: Lívia Alcântara | Asacom

Roselita Victor também reforçou a necessidade de que esta produção chegue em cada pessoa do Semiárido: 

“Eu já estou aqui sonhando em tantos cantos onde este filme deve passar, porque ele traz muitos elementos do que nós trazemos como lição deste Semiárido que nós não queremos, mas ao mesmo tempo, do Semiárido que nós acreditamos e que nós queremos”. 

O Bem Virá só pôde ser realizado porque o Semiárido se transformou. A geração que nasceu após a criação do Programa Cisternas e de outras políticas públicas de apoio às agricultoras e agricultores, não viveu a fome, não precisou carregar lata d´água na cabeça e teve condições de estudar e ir às universidades. É o que conta a diretora Uilma Queiroz, que nasceu no sertão do Pajeú: 

“Na minha geração, a gente já podia acessar a escola, eu já pude acessar a universidade, eu já pude escrever a história, eu já pude participar da Escola Feminista da Mulher do Nordeste, eu pude conhecer o Grupo Bem Virá, e o Grupo Mulher Maravilha, eu pude inventar de fazer cinema, inventar de contar nossa história nas telas”, conta Uilma. 

Orgulhosa, ela completa: “Eu queria dizer que um dos sonhos que eu tinha quando eu fiz este filme é que vocês da ASA vissem e se reconhecessem nele”. 

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