EMBAIXADORES DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS
25.10.2018
Agricultores/as brasileiros/as resilientes à semiaridez vão ao Senegal trocar conhecimentos com famílias agricultoras

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Por Verônica Pragana - Asacom

Tanto os visitantes, quanto os anfitriões vivem em áreas semiáridas que, com as mudanças climáticas e a diminuição das chuvas, tendem a ter um maior índice de aridez do solo, com ampliação também do fenômeno da desertificação.

Na primeira semana de novembro (de 5 a 13 de novembro), uma comitiva formada por 13 agricultores e agricultoras familiares e 4 técnicos/as do Semiárido brasileiro parte para a África. Vão ao encontro de outras tantas famílias agricultoras no Senegal, que vivem na região do Sahel, um cinturão de até mil quilômetros de largura, que se estende por 5,4mil km desde o Oceano Atlântico até ao mar Vermelho e corta 14 países do norte do continente africano.

Tanto os visitantes, quanto os anfitriões vivem em áreas semiáridas que, com as mudanças climáticas e a diminuição das chuvas, tendem a ter um maior índice de aridez do solo, com ampliação também do fenômeno da desertificação. Há projeções de estudos científicos que preveem uma redução de 50% da precipitação pluviométrica no Semiárido brasileiro neste século 21.

No grupo que vai cruzar o oceano Atlântico em direção à África, estão experientes cientistas empíricos, conhecedores profundos do solo, dos ciclos da natureza, do comportamento das plantas, além de guardiões e guardiães da biodiversidade, onde se incluem desde as sementes crioulas aos micro-organismos que vivem no solo.

Seu Carlinhos é um deles. Aos 62 anos de idade, seu Carlos Soares de Menezes é um grande aprendiz dos ensinamentos da mãe natureza. Seu pedaço de terra com mais de 80 tarefas, tem 70% da área composta de mata da Caatinga. Ele vive na comunidade Lagoa das Areias localizada a 37 quilômetros da sede do Município de Monte Alegre de Sergipe, no território Alto Sertão Sergipano.

Nos encontros e trocas com outros agricultores e agricultoras, Seu Carlinhos dá sempre uma orientação: que cada um conserve ou plante, no mínimo, três árvores por tarefa na pastagem. “Meu avó disse que a gente tem que cercar um tampo de terra e ir plantando devagarzinho, para viver é assim, tem que deixar a vida no meio”.

Do Sertão de Pernambuco, partem dois representantes. Silvanete Lermen é uma delas. “O sistema produtivo da família Lermen está localizado na Serra dos Paus Dóias na Chapada do Araripe, a cerca de 36 km da cidade de Exu [no Sertão do Araripe]. Embora praticamente cercada por propriedades que trabalham o monocultivo do café, da mandioca e criação de bovinos, a propriedade da família é uma das referências mais marcantes em produção agroecológica e Sistemas Agroflorestais (SAF’s) da região”, destaca a introdução do boletim escrito com a história da família, que só no ano passado, recebeu a visita de cerca de três mil pessoas.

As experiências de Seu Carlinhos e de Silvanete, assim como dos demais representantes da agricultura familiar agroecológica no Semiárido estão contadas em boletins que foram traduzidos para o francês e serão levadas na bagagem para o Senegal. Todas estas histórias podem ser conferidas em português nos links abaixo.

A história do Guardião da Caatinga, seu Carlinhos

Família Lermen mostra como se dedicar a várias culturas garante alimento e renda

Agricultor familiar dá exemplo de convivência com o Semiárido

Os movimentos foram minha faculdade - a experiência da agricultora Marta Moreira

A trajetória de Sueldo: “Essa é a história da minha vida”

Agrofloresta para o Desenvolvimento Sustentável

O cuidado com o Gerais pelas mãos da agricultora e guardiã Elizângêla Aquino

A luta pela certificação das áreas de Fundo de Pasto

Agricultor Antônio Sabino fortaleceu seu banco de sementes da libertação com a agrofloresta

Quintal com plantas medicinais gera renda para a família de dona Francisca Dantas e Seu Antônio Paiva

Agricultura familiar é casa, é família, é união

A luta pela terra no Alto Sertão da Paraíba

O intercâmbio Semiárido brasileiro-Sahel senegalês é fruto da parceria entre a ASA e a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO). Além da aproximação com a população rural da região do Sahel, no Senegal, os agricultores e as agricultoras familiares do Semiárido brasileiro também estão em pleno intercâmbio com famílias agricultoras que vivem no Corredor Seco da América Central, especificamente, na Guatemala e El Salvador.

Nesse mesmo período, vai acontecer a terceira etapa do intercâmbio com a América Central. De 5 a 14 de novembro, um grupo de 10 pessoas - entre elas mulheres cisterneiras, como são conhecidas as pedreiras que constroem cisternas de placa de cimento - vão realizar oficinas de construção destas tecnologias sociais que têm possibilitado o acesso à água de milhares de famílias no Semiárido brasileiro.