Kleber Nunes | ASACom
“A convivência e a agroecologia não são dádivas, são conquistas”, destaca Naidison Baptista na abertura do 13º CBA
Congresso acontece até sábado (18), em Juazeiro (BA), com o tema “Agroecologia, Convivência com os Territórios Brasileiros e Justiça Climática”

Com o tema “Agroecologia, Convivência com os Territórios Brasileiros e Justiça Climática”, teve início nesta quarta-feira (15) o 13º Congresso Brasileiro de Agroecologia (CBA), em Juazeiro (BA). Realizado pela primeira vez no Semiárido, o evento destacou na conferência de abertura a importância do território que hoje desponta como referência na produção de “comida de verdade” e como modelo no enfrentamento à emergência climática.
A mesa inaugural reuniu o professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), José Augusto Pádua; a coordenadora do Departamento de Mulheres Indígenas da Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (Apoinme), Elisa Pankararu; e um dos fundadores do Movimento de Organização Comunitária (MOC) e coordenador da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), Naidison Baptista.
Em sua exposição, Naidison resgatou o histórico do Semiárido que por muitos anos esteve no imaginário do Brasil como uma região onde a “seca é um flagelo”, mas que atualmente é visto como o lugar “da resistência, da resiliência e da vida digna”. De acordo com ele, essa mudança vem da luta dos povos da região que entenderam que o caminho para o bem-viver passa pela convivência com o território.
“A convivência e a agroecologia não são dádivas, são conquistas, e toda conquista exige vigilância e luta. Espaços que foram dados ao Semiárido, não teriam sido dados sem a força da sociedade civil organizada e sem governos dispostos a escutar e construir conjuntamente. Mas, em alguns momentos, esse diálogo foi para as ruas em marchas e protestos, em outros esteve em mesas de negociação, e foi por causa dessas manifestações que as coisas mudaram”, afirmou.

Uma dessas mudanças visíveis, segundo Naidison, são as cisternas que constituem um dos vários elementos da convivência com o Semiárido e que se transformou em política pública. Em 20 anos, são mais de 1,2 milhão de reservatórios com capacidade para armazenar 16 mil litros de água para consumo humano (beber e cozinhar) e cerca de 250 mil tecnologias de 52 mil litros para produção de alimentos.
“Não poderíamos deixar de falar no CBA da justiça climática e da transição ecológica. O Semiárido sente intensamente os efeitos das mudanças climáticas, mas também oferece respostas, e o Programa Cisternas, consolidado como política de estado, mostra que é possível existir respeitando o solo, a água e a vida”, defendeu Naidison.
Por fim, o coordenador da ASA, convocou os cerca de 6 mil inscritos no CBA a se juntarem à luta dos povos do Semiárido e fazer do congresso um evento histórico.
“A convivência é um caminho em construção, assim como a agroecologia. Portanto, esse congresso deve ser mais que um evento, deve ser um marco coletivo de justiça climática, agroecologia e esperança. Nós do Semiárido trazemos nossas conquistas e nossas feridas e convidamos cada um e cada uma, cada território, cada bioma a juntar sua voz, seu saber e sua luta”, finalizou.
13º CBA
Nesta 13ª edição, em Juazeiro (BA), o CBA é realizado pela Associação Brasileira de Agroecologia (ABA), com organização local da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), do Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (Irpaa), do Serviço de Assessoria a Organizações Populares (Sasop), da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), da Universidade do Estado da Bahia (Uneb de Juazeiro), do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), do Movimento dos Pequenos e Pequenas Agricultoras (MPA), da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sertão Pernambucano (IFSertãoPE) e Rede de Agroecologia Povos da Mata.
O Congresso conta patrocínio da Fundação Banco do Brasil e do BNDES e apoio do Governo Federal por meio dos Ministérios da Saúde, Igualdade Racial, Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, e Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e FioTec, e Prefeitura Municipal de Juazeiro; e Governo do Estado da Bahia, por meio do Programa Bahia sem Fome e Bahia Turismo.
O evento conta também com a contribuição de representantes de diversas organizações, redes e articulações da sociedade civil, instituições de ensino, movimentos sociais populares e comunidades tradicionais.