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Iranildo apresenta sua produção | Foto: Edilmara Kayt / Arquivo: Ceat |
De 18 a 20 de junho agricultores (as) dos municípios de Carnaubal e Frecheirinha no Ceará participaram de Intercâmbio Interestadual visitando experiências nos municípios de Caraúbas e Umarizal no Rio Grande do Norte. Os agricultores e agricultoras estão participando do Projeto Uma Terra e Duas Águas (P1+2) da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA) executado pelo Centro de Estudos e Apoio ao Trabalhador e à Trabalhadora (Ceat) com financiamento da Fundação Banco do Brasil (FBB).
A primeira experiência visitada foi a da família de Iranildo, na comunidade de Cacimba do Meio. Iranildo soube aproveitar bem o pequeno espaço de sua terra com uma diversidade de tecnologias de convivência com o Semiárido como a cisterna de 16 mil litros, a barragem subterrânea, o cacimbão, o biodigestor e o banheiro redondo. A família tem uma pequena criação de porcos, galinhas e ovelhas, produzem hortaliças que comercializam nas feiras de Umarizal e Caraúbas, além de administrarem um banco de sementes comunitário.
Iranildo conta que começou a trabalhar de forma agroecológica em 2005, mas mesmo antes não gostava de usar nada químico, “eu uso é esterco de gado, é o nim, é o estrato da água do nim, não uso fertilizante, eu uso só esses naturais, não uso nada químico”, coloca o agricultor.
Antes ele trabalhava como meeiro, mas depois começou a trabalhar em sua própria terra, implementou um quintal produtivo ao redor de sua casa. Ele mesmo conta como aconteceu: “Eu já tinha plantado feijão, já tinha muita coisa a redor do meu quintal e lá foi que eu passei esse tempo todinho, uns seis anos tirando toda alimentação da minha família. Deixei de trabalhar alugado, (…) eu tinha minha casinha, (…) e foi aí quando eu comecei. (…) com um ano mais ou menos ai eu já vi que a coisa ia dar certo. Apesar de que, que o pessoal da comunidade me chamaram de doido, que eu ia matar a minha família de fome e lá se vai, mas eu acreditei no projeto né, dei continuidade no quintal e comecei a produzir”. Ele fala que nunca desistiu, que tudo “depende muito da vontade da gente”.
Antes Iranildo conta que ia comercializar nas feiras de bicicleta, mas depois conseguiu comprar uma moto e depois um carro e em 2010 comprou também os três hectares de terra onde mora hoje. Sobre a nova área onde reside ele conta: “comecei a melhorar a área porque no ano que eu cheguei aqui só era mata, não tinha onde trabalhar, aí foi começando a equipar, os equipamentos pra poder trabalhar minha área”.
Durante a visita Iranildo foi mostrando as tecnologias que utiliza e o grupo de agricultores foi tirando as dúvidas que iam surgindo, perguntando para melhor conhecer.
Iranildo fala que mesmo com tudo o que já conseguiu não pretende parar, está se organizando para iniciar uma criação de codorna, e incentiva os (as) agricultores (as) a também acreditarem: “é assim, a gente quando tem um projeto que tem quem ajude a gente e a gente tendo a coragem de trabalhar sempre dá certo”.
A segunda experiência visitada foi a do Grupo de Mulheres Unidas pela Paz, no Assentamento São José em Caraúbas. O grupo, organizado de forma econômica solidária, possui uma cozinha onde beneficiam frutas e fabricam doces e bolos que comercializam no próprio Assentamento e na feira de Caraúbas.
Além das frutas produzem hortaliças que também comercializam. Elas trabalham juntas em todo o processo, no cultivo das frutas e hortaliças, no beneficiamento, na venda e o que recebem é investido na cozinha, na produção e as sobras são divididas em partes iguais entre elas.
A riqueza de aprendizado promovida pela troca de experiências possibilita que práticas simples, agroecológicas e solidárias sejam difundidas e reproduzidas entre agricultores (as) de várias comunidades de municípios e Estados diferentes, conduzindo para a diminuição de desigualdades, a garantia de direitos e para que a população do campo possa ter uma vida digna sem sair de suas terras, aprendendo a conviver com as adversidades climáticas de sua região.