Sarah Gonçalves | Rede de Comunicadores do Semiárido
Agricultoras e agricultores experimentadores reforçam a importância do conhecimento camponês para um Brasil sem fome
Plenária realizada durante o 13º CBA revelou experiências que fortalecem a soberania alimentar e nutricional e apontam para um futuro pautado no Bem-Viver

Agricultores e agricultoras familiares de diversos territórios brasileiros participaram, nesta quinta-feira (16), do Encontro de Agricultores Experimentadores, durante o 13º Congresso Brasileiro de Agroecologia (CBA), em Juazeiro (BA). A plenária reuniu experiências camponesas do norte e nordeste para dialogar sobre o tema “Agricultoras e agricultores experimentadores, inovação camponesa e produção de alimentos saudáveis na promoção da segurança e soberania alimentar.”
A agricultora familiar Ana Maria da Silva Gomes abriu o diálogo da plenária relatando a importância da agroecologia para o fortalecimento da vida de sua comunidade no Assentamento Professor Maurício de Oliveira, localizado em Assu (RN).
Guardiã de sementes e pescadora, ela pontuou que a valorização das sementes crioulas e o acesso à políticas públicas foi fundamental para a garantia do fortalecimento alimentar e nutricional da comunidade.
O jovem agricultor Darlan Neres, de Santarém, no Pará, trouxe o exemplo do protagonismo da juventude na luta pela defesa da biodiversidade a partir da luta dos “Guardiões do Bem-Viver”. Ele refletiu sobre a importância de lutar pela proteção dos territórios para o fortalecimento da agricultura familiar e para garantir alimentos na mesa do povo.
“A solução para o combate à fome vem dos territórios, porque somos nós, povos tradicionais, temos atuado na construção de tecnologias sociais para combater a insegurança alimentar”, afirmou.
Darlan pontuou ainda que é fundamental proteger o território e a biodiversidade para garantir a produção de alimentos, do contrário não é possível ter a agricultura familiar.
“Sem a proteção do território, não tem agricultura familiar”
O agricultor familiar João Ribeiro trouxe a experiência coletiva da Associação de Agricultores/as Agroecológicos de Bom Jardim (Agroflor), de Pernambuco, em prol da produção de alimentos agroecológicos. Fundada em 1999, a diretoria da organização é formada somente por agricultores familiares que atuam no cultivo e venda de alimentos agroecológicos através do PNAE e Conab.
“No momento que começamos a atuar juntos, conseguimos acessar editais públicos que nos oferecem preços justos pelos nossos alimentos”, declarou o agricultor familiar.
De acordo com João, essa iniciativa, além de possibilitar o acesso a novos mercados e promover o fortalecimento da renda dos associados da Agroflor, levou os agricultores a atuarem em espaços de incidência política para lutar ativamente pelo fortalecimento da agricultura familiar no estado de Pernambuco.
“Hoje, integramos o Consea [Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional] e lutamos para que a produção de alimentos agroecológicos possa ser um direito coletivo”, disse o agricultor.
Somente este ano, a Agroflor conseguiu vender 4.422 kg de alimentos agroecológicos para a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e mais de 14 mil kg para o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae).

“Saímos do Mapa da Fome e não queremos voltar”
A importância da construção coletiva do conhecimento do povo camponês foi celebrada por Naidson Baptista, membro da coordenação executiva da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA). Ele refletiu sobre a importância do conhecimento popular na construção de caminhos que permitam fortalecer uma alimentação saudável em nosso país.
“Hoje vocês vêm para esse espaço não para assistir, mas para trocar saberes, e esse movimento tem nos permitido dizer que soberania alimentar é conseguir garantir o que queremos comer e nós não queremos veneno em nosso prato”, afirmou Naidison.
Segundo ele, é preciso seguir firmes nessa luta, ocupando a política e disputando o orçamento público para que possamos seguir firmes na construção do modelo de sociedade que queremos para o nosso povo.
Naidison destacou que no governo Bolsonaro (2018-2024) o Programa Cisternas teve apenas R$ 4 milhões, o que inviabilizaria a realização dos Projetos de Formação e Capacitação para a Convivência com o Semiárido. Já no governo Lula foram disponibilizados R$ 4 bilhões o que permitiu a retomada dos programas nos dez estados do Semiárido brasileiro.
Sementes do diálogo
“Para mim, estar aqui é uma realização de um sonho, é a base para reavivar a nossa luta pela agricultura familiar fazendo memória dos nossos ancestrais que lutaram pela valorização da agricultura familiar como um direito”, afirma a agricultora familiar e estudante de Agroecologia da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), Joelma Santana de Uibaí.
O agricultor familiar João Aparecido de Sousa, da Serra da Capivara, no Piauí, refletiu sobre a importância do diálogo da plenária e da alimentação agroecológica. Para ele, a sua comunidade vivencia a insegurança alimentar devido à realidade diária da falta de água no território.
Maria Neuracy Sá, agricultora familiar de Rio Pardo de Minas (MG) e geraizeira, salientou que esses espaços são fundamentais, como a plenária, para fortalecer a luta do povo camponês e promover a troca de conhecimentos que apontam alternativas que fortalecem os territórios.
13º CBA
Nesta 13ª edição, o CBA é realizado pela Associação Brasileira de Agroecologia (ABA), com organização local da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), do Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (Irpaa), do Serviço de Assessoria a Organizações Populares (Sasop), da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), da Universidade do Estado da Bahia (Uneb de Juazeiro), do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), do Movimento dos Pequenos e Pequenas Agricultoras (MPA), da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sertão Pernambucano (IFSertãoPE) e Rede de Agroecologia Povos da Mata .
O Congresso conta patrocínio da Fundação Banco do Brasil e do BNDES e apoio do Governo Federal por meio dos Ministérios da Saúde, Igualdade Racial, Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, e Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e FioTec, e Prefeitura Municipal de Juazeiro; e Governo do Estado da Bahia, por meio do Programa Bahia sem Fome e Bahia Turismo.
Conta também com a contribuição de representantes de diversas organizações, redes e articulações da sociedade civil, instituições de ensino, movimentos sociais populares e comunidades tradicionais.