Intercâmbio entre Marajó e Semiárido Cearense fortalece alianças entre biomas e práticas de convivência com a terra

Projeto Águas de Marajó realiza intercâmbio de saberes entre biomas historicamente invisibilizados nas políticas públicas: a Amazônia insular e a Caatinga.

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Nelzilane Oliveira

Entre os dias 6 e 8 de maio de 2025, o Semiárido cearense acolheu com afeto uma delegação do Projeto Águas de Marajó, composta por agricultores/as, ribeirinhos/as, extrativistas, quilombolas e técnicos/as de organizações sociais da Ilha do Marajó (PA). A iniciativa promoveu um intercâmbio de saberes entre biomas historicamente invisibilizados nas políticas públicas: a Amazônia insular e a Caatinga.

A programação, realizada nos municípios de Senador Pompeu e Quixeramobim, foi construída de forma coletiva e contou com a parceria ativa do Fórum Cearense pela Vida no Semiárido (FCVSA), além do envolvimento direto do Centro de Estudos do Trabalho e de Assessoria ao Trabalhadora e à Trabalhadora (CETRA) e do Instituto Antônio Conselheiro (IAC), organizações que atuaram como anfitriãs. Durante cinco dias de vivência, a delegação visitou experiências marcantes de convivência com o Semiárido, como quintais produtivos, sistemas agroflorestais (SAFs), tecnologias sociais de acesso à água, escolas com cisternas, feiras agroecológicas e comunidades quilombolas.

Os intercambistas foram recebidos por famílias agricultoras, lideranças comunitárias e juventudes rurais que, com simplicidade e profundidade, apresentaram suas tecnologias, histórias de resistência e estratégias de enfrentamento à escassez hídrica. Uma das visitas mais simbólicas aconteceu na comunidade quilombola de Mearim, onde mulheres apresentaram um SAF construído coletivamente, gerando forte identificação com os participantes quilombolas do Marajó.

Além das visitas técnicas, a programação foi atravessada por momentos de mística, rodas de conversa, partilhas culturais e muita emoção. O encerramento foi marcado pela leitura de um poema criado e recitado por Diego Uruatan, integrante da delegação do Marajó, em que memória, pertencimento e ancestralidade se entrelaçam com a terra e com a luta.

Para a Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), o intercâmbio reafirma a potência da atuação em rede e da escuta entre povos, e abre caminhos concretos para possíveis parcerias futuras em projetos de formação, com execução e replicação de tecnologias sociais nos territórios amazônicos. A vivência também fortaleceu o papel político do FCVSA, do CETRA e do IAC na mobilização territorial e na construção de estratégias de convivência com o Semiárido.

Intercambistas observam caixa de abelhas.
Foto: João Caetano/IAC

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