Deserto Verde e a resistência das comunidades da Chapada das Veredas/MG

Na região da Chapada das Veredas, formada por 19 comunidades rurais como Campo Buriti, a monocultura do eucalipto transformou ambientes antes ricos em veredas, córregos e biodiversidade em grandes áreas homogêneas e secas.

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No Alto Jequitinhonha, em Minas Gerais, um conflito silencioso tem marcado a paisagem, a vida e os direitos das comunidades camponesas: o avanço da monocultura do eucalipto, conhecido como Deserto Verde. Esse modelo de produção, voltado à exportação e ao lucro das grandes empresas siderúrgicas, compromete a biodiversidade, o solo, o ar, os recursos hídricos e os modos de vida tradicionais. 

Na região da Chapada das Veredas, formada por 19 comunidades rurais como Campo Buriti, a monocultura do eucalipto transformou ambientes antes ricos em veredas, córregos e biodiversidade em grandes áreas homogêneas e secas. As histórias dessas comunidades vêm sendo contadas por meio de iniciativas como o boletim A história de luta e resistência de Campo Buriti (2024) , o estudo Comunidades rurais e a água na microbacia hidrográfica do Rio Fanado, realizada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o Centro de Agricultura Alternativa Vicente Nica (CAV) e Rede de Parcerias, e pela reportagem da Repórter Brasil, Grande Sertão, sem veredas: “aço verde” que brilha na Europa seca o Jequitinhonha.

As comunidades da Chapada das Veredas compartilham uma trajetória de vida coletiva, marcada pela relação profunda com a terra, que se traduz nas festas populares, nas práticas religiosas e nos modos de produção que combinam agricultura familiar, criação animal e manejo sustentável da natureza. Essa forma de vida foi duramente impactada com a chegada da grande empresa.

Desde a década de 1970, as chapadas da região — que funcionavam como áreas de recarga hídrica, abastecendo as grotas e os vales — foram sendo tomadas por monoculturas de eucalipto. Segundo a pesquisa coordenada pela UFMG, mais de 220 mil hectares (que equivalem a 220 mil campos de futebol) já foram convertidos em plantios homogêneos, provocando:

Imagem com fundo verde e o seguinte texto aplicado: 
-Redução da recarga do lençol freático em até 10 cm por ano;
-Queda da vazão dos rios, como o Fanado, de 2,5 m³/s para 0,3 m³/s; 
-Secamento de nascentes e assoreamento de córregos;
-Perda da biodiversidade e da fertilidade dos solos.

Apesar da riqueza dos aquíferos no solo e da presença das veredas, 63,2% das famílias entrevistadas pela pesquisa da UFMG utilizavam caixas ou cisternas para captação da água da chuva como principal fonte para uso doméstico. Esse dado revela não apenas a realidade da escassez hídrica, mas também a potência da organização comunitária na luta pela sobrevivência e no cuidado com a água, pois, esse movimento deu origem à chamada “REDE DE PARCERIAS” que envolve lideranças comunitárias e organizações de apoio para coordenar processos e fazer incidência política, o que relata Valmir Macedo, coordenador do CAV.

A destruição das veredas — ambientes naturais de nascentes e drenagem — comprometeu os fluxos subterrâneos e afetou diretamente o abastecimento humano e produtivo. As chapadas, antes áreas de uso comum, foram privatizadas pondo em risco  a rica biodiversidade e o conhecimento tradicional dos povos do Cerrado, conforme relata Faustina Lopes.

Com o apoio da Rede de Parcerias e do Centro de Agricultura Alternativa Vicente Nica (CAV), as comunidades vêm se organizando para recuperar suas fontes de água, fortalecer a agroecologia e retomar o uso comum de seus territórios.

Resistência: a 2ª Semana Chapada das Veredas

Como parte do processo de resistência, as comunidades organizam mais uma vez um espaço de encontro e mobilização: a 2ª Semana Chapada das Veredas, que será realizada de 1 a 8 de junho de 2025, com diferentes atividades nas diversas comunidades, inclusive, com abertura e encerramento em Campo Buriti.

O evento contará com a participação de agricultores e agricultoras, jovens, educadores, organizações sociais e representantes públicos, com uma programação diversa como oficinas e debates sobre água, agroecologia e território; debates sobre empoderamento feminino e juvenil; apresentações culturais, roda de viola, danças, esporte, culinária tradicional, feira de saberes, sementes e artesanato local.

“Queremos ser reconhecidos como comunidades tradicionais. Nascemos aqui e queremos viver aqui. Se não está dando para viver, precisamos resolver o que está atrapalhando”, afirmou Faustina Lopes, uma das lideranças locais.

A luta das comunidades da Chapada das Veredas é uma luta por direito à terra, à água e ao território. Em um tempo de escassez hídrica e crise climática, suas vozes ecoam um alerta e uma proposta: é possível viver de forma justa, digna e sustentável, respeitando os biomas e os modos de vida dos povos do campo.

Com o apoio de redes como a ASA (Articulação do Semiárido Brasileiro), o CAV e a Rede de Parcerias, as comunidades reafirmam que a agroecologia e o cuidado com as veredas são caminhos concretos para enfrentar o deserto verde.

Saiba mais em: https://www.instagram.com/veredaschapada/

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