Intercâmbio alerta para necessidade de políticas públicas para a agricultura familiar

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Cerca de 120 pessoas, entre técnicos, professores, pesquisadores, bolsistas e lideranças visitaram experiências agroecológicas nos municípios paraibanos de Juazeirinho, Olivedos, Remígio e Esperança e debateram a necessidade de novas políticas públicas para o desenvolvimento agroecológico sustentável. A atividade fez parte do Seminário Internacional Construção da Resiliência Agroecológica em Regiões Semiáridas realizado pelo Instituto Nacional do Semiárido (Insa/MCTI) e pela Articulação Semiárido Brasileiro (ASA) no final do mês passado (21 a 23 de janeiro).

Grupo de visitantes posam para foto ao lado do casal seu Edmar e dona Cícera (esq.), agricultores agroecológicos do cariri paraibano | Foto: Arquivo Insa

Os participantes que visitaram o município de Juazeirinho (PB), no Território do Cariri, conheceram as experiências do casal de agricultores experimentadores Edimar Andrade e Cícera Lopes. Moradores da comunidade Pedra d’Água, localizada a 12 km do centro da cidade, estes agricultores enfrentam a estiagem e os desafios da agricultura familiar através da criação e adequação de tecnologias sociais que captam e armazenam água da chuva e da mudança de hábitos, partindo do princípio de captação, estocagem, manejo e reuso dos recursos que têm acesso.

A família que utilizava práticas que agridem o solo como uso de agrotóxicos, desmatamento e queimadas iniciou a mudança quando ingressou em atividades desenvolvidas por organizações como o Programa de Aplicação de Tecnologia Apropriada às Comunidades (Patac) e o Coletivo Regional do Cariri, Seridó e Curimataú (Coletivo), que compõem a ASA Paraíba.

Na propriedade de oito hectares, os visitantes conheceram diversas experiências com subsistemas agrícolas como, por exemplo, o manejo com a palma forrageira resistente à praga da cochonilha-do-carmim, da espécie Orelha de Elefante Mexicana; a farmácia viva que possui uma variedade de espécies de plantas com capacidade medicinal e a criação de bovinos, caprinos, suínos e galinha caipira.

Através de formações e do contato com outras experiências, a família aprendeu o cultivo de diversas hortaliças e hoje possui uma horta totalmente orgânica, permitindo sua participação na feira do município e, desse modo, ter mais uma fonte de renda. Nenhum tipo de agrotóxico é utilizado no cultivo dentro da propriedade, conquista que impressionou os participantes do intercâmbio que indagaram sobre os tipos de inseticidas naturais que são utilizados.

A família que tinha grandes problemas com a estiagem, tendo que se locomover por mais de 4,5 km a pé para conseguir água, hoje tem um sistema eficaz e sustentável de segurança hídrica. Atualmente possuem sete cisternas com capacidade total de comportar cerca de 160 mil litros de água, destacando-se entre elas a cisterna de produção conquistada através do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2) da ASA e que pode armazenar até 52 mil litros de água.

Em 2009, o casal implantou o sistema de reuso de águas. O modelo teve a consultoria técnica do Patac e é baseado na pesquisa que o Insa desenvolve a partir de experiências de reaproveitamento de água das famílias agricultoras. Nele, toda a água utilizada para lavar louça, roupas e tomar banho passa por um processo de filtragem e tratamento. Por meio da técnica de gotejamento, rega parte da horta e pomar da propriedade. Além disso, está atualmente em processo de instalação um poço que beneficiará toda a comunidade.

O coordenador executivo da ASA pelo estado de Sergipe e participante do seminário, João Alexandre de Freitas, destacou o evento como um espaço de formação e troca de experiências. “Aqui na Paraíba foi possível conhecer técnicas que poderão aprimorar tecnologias que já desenvolvemos, assim como conhecer outras que não dominamos como, por exemplo, o sistema de reuso de águas que é de simples instalação e que trará resultados positivos para os agricultores sergipanos”, conclui.

O casal de agricultores atua também como lideranças em sua localidade e estão envolvidos na criação do Banco de Sementes da Comunidade Pedra d’água, que estoca uma variedade de sementes crioulas para o plantio como feijão, milho, sorgo, jerimum, dentre outros. Eles também participam da Unidade de Beneficiamento de Frutas, que envolve um grupo de oito famílias que vêm transformando frutas nativas da região ou adaptadas em polpas, doces, compotas, dentre outros alimentos.

Debate – Ao final das visitas, os visitantes e representantes do Coletivo e da ASA discutiram os desafios para a construção da resiliência agroecológica no Semiárido e o papel de políticas públicas. Dentre os temas discutidos estão a necessidade de consolidar a segurança alimentar, hídrica e genética (seja de sementes ou de animais) em áreas semiáridas; democratização da terra; diminuição da burocracia em políticas públicas existentes e mobilização por direitos mais efetiva.

A coordenadora executiva da ASA pelo estado da Paraíba, Glória Araújo, ressalta o Seminário Internacional como inovador e um importante fomentador do debate. “Conhecer experiências de resiliências ecológicas e sociais, em âmbitos familiares e territoriais, vai alimentar o debate e contribuir na construção de políticas publicas que irão fortalecer a resiliência na agricultura familiar”, disse.

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