Uma soma de saberes: cursos despertam o sentido do aprendizado nos/as agricultores do Semiárido

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Agricultores e agricultoras aproveitam as capacitações em manejo da água para adquirir novos aprendizados e trocar conhecimentos | Foto: Daiane Almeida

Quem participa dos cursos oferecidos pelo Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2) da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA) se surpreende com o quanto ainda tem a aprender e o quanto ainda pode ensinar. Dona Antonina de Souza Carvalho, moradora do Povoado de Canto, em Serrinha-BA, é um exemplo disso. Ela participou entre os dias 25 e 27 de junho do curso de Sistema Simplificado de Manejo de Água para Produção (Sisma), na Comunidade Alto Alegre.

“Eu não pensei de hoje, eu com 54 anos, podia estar viajando, conhecendo os lugares, com um caderno na mão aprendendo alguma coisa. A gente acha que lugar de mulher é dentro de casa. Ontem, a gente aprendeu a fazer a encanação com a bomba malhação, hoje vamos aprender a fazer o biofertilizante, o remédio para combater as pragas. Eu não esperava que fosse assim. E se eu puder ensinar a outras pessoas, como minhas irmãs, eu já passo para elas. Se a gente ficar em casa não consegue nada. Eu fui para todos os intercâmbios. Quanto mais você anda, mais conhece gente”.

A agricultora está cheia de expectativas para a chegada do barreiro-trincheira na sua propriedade. “Eu planto para o meu consumo e da minha família. Não pretendo vender. Quero plantar minhas verduras e flores. Eu quero ter a água para o ano todo, pois carrego água da fonte para molhar as minhas coisas. Eu nasci e me criei na roça. Via meu pai e minha mãe fazendo isso, criando galinha caipira. Eu só abato um frango depois de 6 ou 7 meses. A gente mora na roça, tem terra e água, vai consumir coisa de fora para ter doenças? Se a pessoa puder evitar e consumir o que pode produzir é melhor”, enfatiza Dona Antonina.

Assim como Dona Antonina, todas as famílias que são atendidas pelo P1+2 participam do curso de Sisma. Outro momento de formação oferecido aos agricultores é a capacitação em Gestão da Água para Produção de Alimentos (GAPA), que tem como objetivo trocar conhecimentos acerca do uso da água de forma econômica e sustentável.  A previsão é que a APAEB de Serrinha, entidade que desenvolve o P1+2 nos municípios baianos de Capela do Alto Alegre, Teofilândia, Serrinha, Nordestina, Queimadas e Cansanção, realize este ano 38 cursos.

Técnicas que contribuem para a convivência com o Semiárido

Os participantes do curso estavam empolgados para conhecer quais técnicas seriam apresentadas pela instrutora Reinilda de Oliveira. Muitas delas já são praticadas pelos agricultores. No curso, eles têm a oportunidade de reciclar os conhecimentos e trocar informações.

“Esse momento é uma oportunidade de somar o conhecimento técnico ao saber popular dos agricultores. Observo que o curso auxilia os agricultores quanto às técnicas de convivência com o semiárido. Existe uma carência muito de grande assistência técnica. Muita coisa que trago para o curso eles já sabem, mais é preciso aperfeiçoar, juntar os saberes”, diz Reinilda Oliveira.

Participantes aprendem a fazer um canteiro econômico com garrafas pet | Foto: Daiane Almeida

O curso tem o enfoque prático e os agricultores colocam a “mão na massa” e dão conta de tudo que é proposto.  Eles confeccionaram microaspersores com caneta que são conectados a bomba malhação no processo de irrigação.

Também produziram um inseticida natural que pode ser feito com nim, uma espécie resistente à seca e comum na Caatinga.  A receita é simples: as folhas são batidas com água no liquidificador, o sumo é coado e após passar três dias na infusão pode ser utilizado no combate às pragas que surgem nas hortaliças e nos animais como a mosca de chifre e o carrapato.

Outra técnica interessante foi a construção do canteiro econômico com garrafas pet.  O canteiro é feito com blocos e coberto com plástico. Para substituir o cano, podem ser utilizadas garrafas pet conectadas, com furos a cada 10 cm. Elas ficam cobertas com telha e terra, assim o canteiro está pronto para o plantio.

A visita de campo foi outro momento de aprendizado durante o curso. “Eu gosto de receber o pessoal, de conversar e aprender. Se eu tivesse tido estudo acho que seria um professor porque eu gosto de ensinar”, disse Valdomiro Santana, Seu Valdo, que recebeu os 24 agricultores e agricultoras em sua propriedade. Ele e a esposa Rosa comercializam hortaliças na comunidade, depois que conquistaram a cisterna-enxurrada realizaram o sonho antigo de produzir e viver disso.

“Eu tinha na minha cabeça vontade de trabalhar com horta, mas não tinha água. Aí quando surgiu a cisterna a gente agarrou com as duas mãos. Eu tava em Minas quando minha mulher me falou da cisterna, eu disse que a gente tinha que fazer de qualquer jeito. Quando eu cheguei já fui colocando a mão na massa e já comecei com a horta. Eu tinha a vontade [de fazer uma horta] mais não tinha os meios. Com os cursos que Rosa participou me animei, abracei logo essa ideia de trabalhar a horta com o plástico. Estamos sempre aprendendo e vendo que precisamos saber mais”, diz Seu Valdo com muita alegria.

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