A descoberta de um novo Sertão povoado das experimentações de seu João Felix

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A paisagem da comunidade Riacho do Meio não se difere das paisagens do semiárido cearense. No Sertão Central do Ceará, avistamos aos montes os pedregulhos, os morros embaçados no horizonte, as curvas onduladas e maliciosas, veredas sem fim, a terra corada pela vermelhidão, a caatinga cinzenta e o clarão do sol que, com seus raios translúcidos, faz emergir o brilho do olhar de uma gente provida de resistência, de amizade pura e de sentimento de pertencimento de Ser-Tão.

A paisagem de secura vai se borrando, se contorcendo e se transformando, ao passo que nós nos aproximávamos da experiência de manejo da Caatinga e do quintal agroecológico do agricultor João Feliz, que mora em Riacho do Meio. Quando a gente olha para aquela paisagem, o ponto de vista é modificado, nossos olhos são preenchidos de beleza, de vida, de gente.

 

Visitantes conferem canteiro de seu João Felix junto à cisterna-calçadão | Foto: Flávia Cavalcante

Seu João Felix é agricultor experimentador, sua alegria constante e atenção minuciosa aos visitantes que vão conhecer a experiência do quintal produtivo agroecológico e do manejo da caatinga. Ele promove no espaço do seu quintal agroecológico a maestria da experimentação, regendo sua experiência, coreografando sua expressão. Seus gestos, seus movimentos, seus olhares, o seu riso vão, aos poucos, nos preenchendo de tamanha verdade do desejo da troca dos saberes.

É desse lugar de enunciação que surge um tempo e um espaço de experimentação e de preservação, no qual as identidades se fazem e refazem, num movimento ininterrupto da diversidade. Temos a criatividade como o elemento mais forte da convivência que intensifica a diversidade dessas famílias e de suas produções. Assim temos um novo Sertão ou tão Ser novo.

Com a palavra, seu João:  “A nossa terra-mãe, ela cria eu, a minha família, os meus, netos, a minha abelha, os meus carneiros, o meu plantio, é ela que me alimenta. Não podemos matar a terra-mãe. Nós não trabalhamos com inseticida. Inseticida é morte. E morte a gente não trabalha, por que [o que] a gente faz é conviver. É isso que eu quero que meus filhos aprenda”.

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