Educar para libertar
12.09.2016 PI
Evento nacional discute importância da educação contextualizada para a convivência com o Semiárido
De 13 a 15, em Teresina (PI), agricultores/as, educadores/as e representantes das organizações da sociedade civil debatem a educação no campo a partir de experiências que vêm modificando a realidade de escolas e comunidade rurais

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Por Verônica Pragana - Asacom

Evento reúne cerca de 90 pessoas vindas de diversos territórios do Semiárido

Para além de promover o estoque de água, alimento e sementes para as famílias e comunidades rurais da região menos chuvosa do Brasil, a proposta de convivência com o Semiárido pressupõe uma educação contextualizada para as crianças e adolescentes da região. E o que quer dizer educação contextualizada? De uma forma geral, significa um ensino que reconheça e valorize os potenciais da região, os saberes locais e o modo de vida das famílias agricultoras e não as negue.

Para falar sobre a contribuição da educação contextualizada para a convivência com o Semiárido e apontar caminhos para superar os desafios de transformar o ensino do campo, vai acontecer em Teresina (PI), de 13 a 15 deste mês, o Encontro Nacional de Educação Contextualizada. Organizado pela Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), o evento vai reunir cerca de 90 pessoas vindas de diversos territórios da região, que se estende de Minas Gerais ao Maranhão.

O evento será iniciado com uma palestra aberta ao público ministrada pelo educador Miguel Arroyo, referência nacional em educação integral. Ele falará sobre o papel da educação na transformação social. O professor emérito da Universidade Federal de Minas Gerais, que foi secretário adjunto da Educação no estado, concebe o espaço escolar como um importante ambiente para zelar pela formação humanista das crianças e adolescentes.

“Não nascemos prontos: nós nos tornamos humanos. Em que pode colaborar a escola nesse “tornar-nos humanos”, nesse tornar a criança, o adolescente, o jovem… humano? Pensando sobretudo no que Paulo Freire chamava de infâncias roubadas em sua humanidade, o que pode ser feito pelas ONGs, pelas escolas, por todos nós, para recuperar a humanidade que lhes foi roubada, para torná-los mais humanos?”, disse ele numa entrevista concedida ao portal Educação & Participação.

Nos demais momentos do encontro, a tônica será a troca de experiências dos participantes com relação à prática de educação contextualizada. Nos seus territórios de origem, estes atores desenvolvem diversas ações que promovem o envolvimento da escola na vida comunitária.

Na tarde do primeiro dia do encontro, as delegações estaduais vão apresentar os acúmulos e as trajetórias da ASA no campo da educação contextualizada ao espaço rural no Semiárido. Após a apresentação de todos os estados, vai ser construído um panorama a partir dos desafios e oportunidades para a continuidade da incidência da ASA nesta temática.

Também haverá apresentação de experiências em educação contextualizada para evidenciar as diversas propostas metodológicas e as abordagens desta forma de ensino de temas vitais para a convivência com o Semiárido, como agroecologia, reforma agrária, políticas públicas, sexualidade e gênero e singularidades dos povos e populações tradicionais.

Cisternas nas Escolas - Diversas organizações que formam a rede ASA incidem há anos na temática da educação contextualizada. E, em 2010, a partir de uma provocação do Unicef e inspirada na trajetória destas experiências, a ASA começou a executar o Programa Cisternas nas Escolas, que provém as instituições de ensino na zona rural com uma cisterna com capacidade para 52 mil litros e capacitações da comunidade escolar em gestão de água e educação contextualizada.

Segundo Rafael Neves, coordenador do programa, com o Cisternas nas Escolas, a ASA passa a se inserir numa dimensão importantíssima para a transformação da realidade do Semiárido. “Defender uma educação contextualizada é defender uma processo educativo no qual os filhos e filhas das famílias agricultoras não passem mais pelo desmerecimento dos saberes locais e pela desvalorização do trabalho de seus pais e suas mães no roçado, na lida no campo”, assegura ele.

Nesta perspectiva, a escola passa a promover reflexões sobre o acesso à água no Semiárido não a partir da escassez do recurso devido a uma causa ambiental, mas a partir de uma visão crítica sobre a histórica concentração da água, fruto da forte desigualdade social. Essa visão crítica também desmistifica a imagem do Semiárido como um local inóspito e sem vida.

Dados do programa Cisternas nas Escolas
• 3.405 cisternas escolares de 52 mil litros construídas desde 2010;
• 381 capacitações em Gerenciamento de Recursos Hídricos Escolares com a participação de 6.496 pessoas;
• 677 oficinas de Educação Contextualizada com a participação de 13.039 educadores e educadoras;
• 219.198 crianças e 18.705 adolescentes atendidos na última etapa do programa.