Imprensa - Giro pela Imprensa

Voltar

14.09.2010
A delicadeza de um olhar
Jornal - Jornal do Commercio (PE)


Por Eugênia Bezerra

O Sertão brasileiro e o Rio de Janeiro aparecem em imagens delicadas e poéticas, captadas pelo fotógrafo paulista Eduardo Simões. As duas séries, uma delas inédita, são reunidas na exposição Paisagem sem memória, que será inaugurada hoje, às 19h, na Arte Plural Galeria. A mostra é realizada com apoio do Instituto Moreira Salles e também integra a programação do SPA das Artes 2010. A curadoria é da crítica de arte Simonetta Persichetti.

Esta é a primeira vez que o fotógrafo expõe no Recife. Simões iniciou a carreira como fotojornalista na década de 70, foi um dos membros fundadores da agência F4 e ganhou prêmios como o Vladimir Herzog de Direitos Humanos. A partir de 1996, começou a produzir para os Cadernos de Literatura Brasileira do Instituto Moreira Salles (os livros abordam a vida e a obra de escritores brasileiros com entrevistas, ensaios, manuscritos e fotos). Coincidentemente, o trabalho começou por aqui, com uma edição sobre João Cabral de Melo Neto.

Na exposição, o público verá um exemplo deste trabalho que reúne fotografia e literatura. A série Vestígios: o Rio de Machado de Assis tem fotos feitas em locais como a Ilha Fiscal e o bairro de Santa Tereza. Elas mostram elementos do século XIX, em diálogo com um olhar e uma paisagem contemporâneos. O bonde, por exemplo, está parado em uma construção atual. Simonetta viu a série no FotoRio 2009 e fez o convite para esta mostra no Recife.

No térreo da galeria está a inédita Ideogramas, que ressalta a vegetação da caatinga. As fotos foram feitas entre 1999 e 2001 no Sertão da Bahia e da Paraíba: “É como se os autores Euclydes da Cunha e Ariano Suassuna tivessem me guiado por essas regiões”, apresenta Simões. “Leio a obra dos escritores para criar a obra fotográfica. Quando completou dez anos, comecei a rever todas as fotos. O que a gente publica é 10% do que fotografa”, continua, sobre a seleção que está na galeria. Ele também comenta a escolha de não mostrar a caatinga da miséria, da seca. “Penso exatamente o contrário, a caatinga como o único bioma exclusivamente brasileiro”, afirma o fotógrafo que retrata o quanto escultóricos podem ser os cactos.

Simonetta explica que estas fotos descolam do documental. “Ele não fotografa a caatinga e o Rio de Janeiro, eles são a base para desenvolver uma poética”. Completando esta sensação, os locais não são identificados junto às imagens. Cada observador, com suas memórias e impressões, pode interpretá-las sem muitas amarras.

» Arte Plural Galeria. Visitação: de terça a sexta-feira, das 13h às 19h, sábado e domingo, das 16h às 20h. Até o dia 8 de outubro. Entrada gratuita. A galeria fica na Rua da Moeda, 140, Bairro do Recife. Informações pelo telefone: 3424-4431

Filtre as publicações

Isso facilitará a sua busca