Por Kleber Nunes | ASACom
Feijão e milhos crioulos, mel, extratos naturais de própolis e copaíba, além de produtos beneficiados como farinhas, geleias e licores. São variados cheiros, cores e texturas dos produtos agroecológicos que marcam a presença do Semiárido brasileiro na 6ª Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (6ª CNSAN). O evento acontece em Brasília (DF) até quinta (14) reunindo mais de duas mil pessoas com o objetivo de elaborar o 3º Plano Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional.
“Não é só pela renda, que também é muito importante para o campesinato, mas é pela oportunidade de mostrar, para pessoas de todas as partes do país, um pouco da riqueza que produzimos em Sergipe, que é o menor estado da Federação Brasileira”, afirma Kauane Santos Batista, dirigente estadual do Movimento Camponês Popular (MCP), entidade que integra a Rede ASA Sergipe.
Do estado nordestino Kauane levou para a 6ª CNSAN feijão, fubá, doces e óleo de côco. Os produtos estão expostos na Feira da Sociobiodiversidade aberta oficialmente, nesta segunda (11), como parte da programação da Conferência. Além de Sergipe, há também barracas de Minas Gerais, Bahia, Alagoas e Pernambuco, entre as 30 presentes na mostra. O objetivo é valorizar a produção agroecológica e promover o intercâmbio entre os agricultores e as agricultoras.
Buscando esse reconhecimento do trabalho dos guardiões de sementes e essa troca de saberes com agentes da agroecologia de todas as regiões do país foi que o agricultor Antônio Teixeira, de São João (PE), chegou como convidado da feira na 6ª CNSAN. Defensor das sementes crioulas, que aprendeu a preservar há mais de 50 anos, o guardião está expondo 22 variedades de feijões produzidos pela Associação Comunitária Nova Esperança.
“Aqui está uma pequena representação do trabalho que fazemos no Semiárido que é de preservação das nossas sementes. É um trabalho que vem desde meu bisavô e hoje eu repasso para meus filhos e outros jovens. As sementes crioulas também é nossa forma de demonstrar que não queremos o transgênico em nossos territórios nem em nossos pratos, pois podemos produzir comida saudável e de qualidade”, defende Teixeira.
Erradicação da fome e democracia alimentar
As riquezas do Semiárido apresentadas pelos agricultores e agricultoras materializam a mensagem que marcou o primeiro dia da 6ª CNSAN: a necessidade do diálogo para a erradicação da fome e a promoção da democracia alimentar.
Elisabetta Recine, presidentado Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), enfatizou que o primeiro momento do encontro buscou agregar conhecimentos, diálogos e saberes pela pluralidade e diversidade dos participantes. O objetivo foi intensificar o compromisso dos e das participantes com a erradicação da fome e o respeito à diversidade e pluralidade desde a forma de produção e cultivo até as formas de consumo.
João Pedro Stédile, economista e ativista da reforma agrária e das mudanças necessárias ao Brasil, destacou que para superar o problema da fome é necessário “medidas concretas de soberania e segurança alimentar, sobretudo, medidas que dêem condições ao povo de produzir seu próprio alimento”.
Ações como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e Cozinhas Solidárias foram destacadas na fala do ministro do Desenvolvimento Social e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Wellington Dias, que ressaltou que o Ministério tem metas integradas para redução da pobreza, geração de oportunidades e, principalmente: tirar o Brasil do mapa da fome.
O fácil acesso aos alimentos saudáveis desde a produção até à mesa dos brasileiros e brasileiras e a sua diversidade também são pontos importantes a serem considerados quando se trata de comida de verdade.
De acordo com o ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA), Paulo Teixeira, a participação de organizações, cooperativas e associações são fundamentais para dar condições de produção, consumo e respeito às diferenças pela população. “Temos que promover a agricultura familiar porque ela tem um sistema alimentar tradicional de diversas complexidades brasileiras, e por isso, precisamos promover a diversidade”.
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