Projeto com recursos de fundos globais e BNDES se pauta na convivência com o Semiárido

Pelos resultados alcançados, este conceito é base para o projeto Sertão Vivo que mobiliza fundos globais de enfrentamento à emergência climática e pobreza rural.

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Verônica Pragana, Asacom

“Todo debate da questão ambiental está associado a dois elementos: a adaptação dos povos e a mitigação dos efeitos. Ambos estão englobados no conceito da convivência com o Semiárido, um conceito que tem muito a dizer ao mundo”, anuncia o sociólogo Antônio Barbosa

Segundo Barbosa, que coordena o Sertão Vivo pela AP1MC/ASA, a lógica da convivência com o Semiárido traz em si um diferencial político-metodológico: o protagonismo dos povos da região e na valorização de seus saberes e experiências. Estes dois elementos são faróis que indicam caminhos a seguir e soluções criativas para enfrentar as crises e desafios de várias ordens, não só a climática.

“A pergunta que nos guia é: como esse povo e essa região têm conseguido driblar a seca?”, questiona ele. “E de que maneira o povo do Semiárido partiu na frente no enfrentamento à crise climática?”, acrescenta, já trazendo a resposta: “Com base nas soluções já adotadas pelas famílias, fomos sistematizando as experiências e construindo políticas públicas e disputando recursos públicos também.”

Projeto Sertão Vivo – A partir de uma caminhada de quase 26 anos, idade da rede ASA, importantes iniciativas vão sendo desenhadas alinhadas com a proposta da convivência com o Semiárido. Uma delas mais recente envolve fundos globais da Organização das Nações Unidas (ONU) – Fundo Verde do Clima e Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA) – e um banco público nacional, o Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES).

Trata-se do projeto Sertão Vivo, que será executado por seis estados do Nordeste, a partir da ação governamental – Bahia, Sergipe, Pernambuco, Paraíba, Ceará e Piauí. Neste projeto, a experiência metodológica da ASA vai ser guia, a partir da contribuição da Associação Programa Um Milhão de Cisternas Rurais (AP1MC), que representa juridicamente a rede ASA. No escopo do complexo do Sertão Vivo, a AP1MC tem a missão de zelar pela integração metodológica do projeto entre todos os estados.

Na execução do projeto, que vai beneficiar ao todo 326 mil famílias, cada um dos seis estados tem sua autonomia. As ações do Sertão Vivo integram ações nas dimensões ambiental, social e econômica, tanto em escala familiar como coletiva. E o espaço de atuação são territórios que englobam várias comunidades rurais ou territórios de comunidades tradicionais.

O principal objetivo do projeto é ampliar a resiliência climática das famílias e comunidades rurais do Semiárido nordestino, ao mesmo tempo em que converte áreas degradadas e diminui a emissão de gases que atuam no efeito estufa. 

Também está previsto o desenvolvimento de diversas pesquisas para investigar os efeitos ecológicos das ações e processos. A intenção é levantar informações e dados para influenciar políticas públicas com maior capacidade de mitigar os efeitos da emergência climática e ampliar a adaptação de quem vive nas áreas mais afetadas.

Representantes dos governos estaduais da Bahia, Sergipe e Ceará e da AP1MC, em Salvador.

Na segunda e terça desta semana (7 e 8), representantes da AP1MC e dos governos da Bahia, Sergipe e Ceará se reuniram para discutir o caminho metodológico a ser trilhado no Sertão Vivo. A reunião aconteceu em Salvador. Na ocasião, os coordenadores estaduais do Sertão Vivo falaram da importância da iniciativa para seus estados: 

Kamilla Souza, Bahia
O projeto Sertão Vivo aqui na Bahia vai se somar a um conjunto de outras políticas públicas, do acesso à água para produção, na perspectiva do recaatingamento, na perspectiva dos sistemas produtivos para as comunidades rurais baianas do Semiárido.  Então ele vem num momento importante de mudanças climáticas, onde as estiagens prolongadas estão cada vez mais severas.

O projeto Sertão Vivo, aqui no estado da Bahia, ele vai contemplar 75 mil famílias, alcançando aí mais de 300 mil pessoas em 49 municípios do Semiárido baiano, alcançando 13 territórios de identidade. Então nós estaremos atendendo quilombolas, assentados da reforma agrária, povos e comunidades tradicionais, ribeirinhas, pescadores, pescadoras, ribeirinhas.

Essa é uma ação estratégica porque dialoga diretamente com a Política Estadual de Convivência com o Semiárido, com a Ppolítica Estadual de Segurança Alimentar e agora, mais recentemente, regulamentado pelo governador Jerônimo Rodrigues, com a Política Estadual de Agroecologia.

Rocicleide Ferreira, Ceará
O Sertão Vivo é um projeto bastante desafiador e bastante inovador para o Ceará.  O Ceará, a cada dia, aumenta suas áreas desertificadas e, a cada dia, populações rurais mais pobres e distantes estão sendo vítimas climáticas. desse processo. 

Então, o Sertão Vivo vai nos possibilitar construir estratégias de combate à desertificação no Ceará,  implantar em mais larga escala o modelo de agroecologia a partir de uma ação pública de Estado, que é uma metodologia de uma agricultura que seja conectada com a dinâmica dos agricultores e agricultoras familiares.

Nós esperamos que a agricultura familiar possa trazer não só geração de renda que ela vai trazer, não só novos processos de manejo na agricultura,  mas que ela possa trazer novos sonhos e novos horizontes para os agricultores e agricultoras familiares cearenses.

Abelardo Neto, Sergipe
O projeto Sertão Vivo que nós estamos levando para o Estado de Sergipe tem importância fundamental para que nós possamos alavancar a agricultura familiar, o atendimento ao pequeno produtor rural no tocante ao desenvolvimento de técnicas e conhecimentos de uma maneira geral para que ele possa ser resiliente às condições climáticas desfavoráveis, para que ele possa resistir e sobreviver aos períodos de estiagem.

As tecnologias e todo o treinamento que nós vamos dar através do Sertão Vivo vão contribuir muito para amenizar o sofrimento desse produtor, minimizando assim as perdas e favorecendo os seus ganhos, fazendo com que ele passe a ter na sua atividade produtiva um elemento fundamental de sobrevivência principalmente e também de geração de renda para a família do produto rural e consequentemente girando, com isso, a economia do Estado.

O Sertão Vivo vai abranger 29 municípios do Semiárido sergipano e beneficiar 38 mil famílias.

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