Recaatingamento é tema de discussão na Zona Verde da COP30

Clérison Belém, do Irpaa, defendeu durante o painel que o recaatingamento não deve ser limitado à recomposição vegetal

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Lorena Simas | Rede de Comunicadores/as do Semiárido

O espaço “Programa Recaatingar e Floresta Viva 2: ações para a Recuperação da Caatinga”, realizado nesta sexta-feira (14), na Zona Verde da COP30, em Belém (PA), reuniu organizações da sociedade civil e membros do poder público. O encontro, que também contou com representantes do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e Banco do Nordeste (BNB), expôs tanto os avanços quanto as lacunas históricas que ainda persistem nas políticas de conservação da Caatinga.

O diretor do Departamento de Combate à Desertificação do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), Alexandre Pires, apresentou o Programa Recaatingar, voltado à restauração produtiva de áreas degradadas, à conservação do solo, da biodiversidade e da água, além de fortalecer a resiliência climática e práticas de Bem-Viver no bioma.

Pires enfatizou que a construção do programa busca diálogo com organizações e movimentos sociais para garantir maior efetividade. Segundo ele, um reconhecimento que prova que iniciativas “de cima para baixo” não são e nunca foram o caminho mais assertivo. O diretor também destacou que a restauração no Semiárido exige uma lógica própria, diferente dos modelos importados de florestas úmidas, onde a disponibilidade hídrica não é um obstáculo central.

Clérison Belém é coordenador institucional do Irpaa | Foto: Lorena Simas

O coordenador institucional do Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (Irpaa), Clérison Belém, ampliou a crítica ao ressaltar que o recaatingamento não deve se limitar à recomposição da vegetação.

De acordo com o técnico, recuperar as áreas degradadas do bioma exige manejo sustentável, educação contextualizada e fortalecimento socioeconômico por meio de associações e cooperativas. Ainda durante a exposição, Clérison salientou que qualquer política de restauração sem integrar justiça social, geração de renda e autonomia territorial tende a ser superficial e pouco duradoura.

Durante o evento, o chefe do Departamento de Meio Ambiente do BNDES, destacou que o Projeto Floresta Viva 2, que tem aporte inicial de R$ 100 milhões, direcionará a maior porcentagem de seus recursos para a Caatinga. A iniciativa pretende ampliar o apoio a projetos de restauração ecológica com espécies nativas e sistemas agroflorestais em diversos biomas.

Embora os programas apresentados representem avanços relevantes para a recuperação da Caatinga, para Belém é insuficiente celebrá-los sem questionar o modelo de desenvolvimento que continua a ser imposto ao Semiárido. As chamadas “energias renováveis”, frequentemente tratadas como solução incontestável, têm avançado sobre comunidades rurais de forma autoritária e centralizada, desrespeitando modos de vida tradicionais e acelerando a degradação do próprio bioma que se pretende proteger.

Assim, enquanto um braço do Estado investe na conservação, outro impulsiona projetos que reproduzem desigualdades, expropriam territórios e ameaçam a Caatinga. Essa contradição estrutural denunciada pelos povos do Semiárido precisa ser evidenciada e enfrentada, sob risco de transformar políticas de restauração em meros discursos que não resistem à prática.

A restauração do bioma, para aqueles que realmente preservam a floresta no dia a dia, requer políticas duradouras, transparência na alocação de recursos e o reconhecimento de que sem justiça socioambiental, sem defesa da terra e território não há recuperação possível.

Painel: “Programa Recaatingar e Floresta Viva 2: ações para a Recuperação da Caatinga” | Foto: Lorena Simas

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