AUTONOMIA FEMININA
11.03.2025
Capacitação em GRH fortalece autonomia das mulheres no Semiárido
Cirandas Infantis garantem espaço de aprendizado e participação para mães e filhos

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Por Rodolfo Rodrigo/ ASACom e Bianca Souza/CAV

Até o final das capacitações, mais de 20 mil famílias irão participar da formação garantindo o conhecimento sobre a água, a terra e a autonomia das mulheres | Fotos: Bianca Souza/CAV

Para as famílias que já receberam a tecnologia de cisternas na sua propriedade, a gestão da água vai muito além do abastecimento. As capacitações em Gerenciamento de Recursos Hídricos (GRH) oferecidas pelo Programa (P1MC) têm sido uma  estratégia de formação fundamental para fortalecer a autonomia das mulheres, que são responsáveis pelo manejo da água nas suas casas e propriedades. Durante os cursos, elas aprendem sobre a captação e armazenamento da água da chuva, seu uso eficiente e os direitos que possuem sobre esse recurso essencial.

Mais que um aprendizado técnico, a capacitação em GRH é um espaço de troca de experiências onde as mulheres discutem o papel histórico da água na sua realidade e sua relação com a permanência no campo. Para muitas delas, esse conhecimento transforma a relação com o trabalho e possibilita uma maior participação nas decisões sobre a produção e o consumo de água em suas comunidades.

Até o final das capacitações em GRH, mais de 20 mil famílias irão participar da formação garantindo o conhecimento sobre a água, a terra e a autonomia das mulheres.

A agricultora Jackeline Pereira, que participou de uma das capacitações na Comunidade Santiago, em Minas Novas (MG), destaca que antes desperdiçava muita água sem perceber. "Hoje, com o que aprendi no curso, sei reutilizar a água de forma mais eficiente, o que me dá mais autonomia no dia a dia", explica. Ela também ressalta que, mesmo com avanços, ainda existe preconceito em relação ao papel das mulheres na gestão dos recursos hídricos. "Muitos ainda acham que é o homem quem deve tomar as decisões, mas a gente sabe que é a mulher que gerencia melhor a água da casa e da produção."

Enquanto as mulheres participam das capacitações, seus filhos também estão aprendendo. As Cirandas Infantis são uma inovação nessa nova etapa do P1MC, atendendo, com apoio do MDS, um anseio das mulheres que tinham dificuldade de participar do GRH por não terem onde deixar os filhos.

Essa estrutura tem sido essencial para ampliar a participação feminina, como aponta Maria da Conceição, da Comunidade Santiago, em Minas Novas (MG), também agricultora e mãe. "Antigamente, a gente queria participar, mas não tinha com quem deixar as crianças. Agora podemos vir, aprender e ficar tranquilas sabendo que nossos filhos estão bem cuidados”.

As cirandas são organizadas paralelamente aos cursos de GRH e garantem que as crianças tenham um espaço seguro e acolhedor, com atividades educativas que dialogam com os temas discutidos pelas mães. Além disso, permitem que as mulheres se concentrem integralmente nas formações, sem a preocupação constante com os filhos.

Joelma Soares, educadora e recreadora das atividades que acontecem na Comunidade Santiago, em Minas Novas (MG), explica que as Cirandas Infantis também promovem formação desde cedo. "As mesmas pautas que os adultos discutem nos cursos podem ser trabalhadas com as crianças de maneira lúdica, com jogos, pinturas e gincanas. Isso faz com que elas cresçam mais conscientes da importância da água e da convivência com o Semiárido", comenta. 

A coordenadora adjunta do P1MC, Juliana Bavuzzo, relata que essa articulação entre a capacitação das mulheres e a educação das crianças é fundamental para um Semiárido mais autônomo e justo. “Quando uma mulher aprende a gerenciar a água, ela passa a ter mais controle sobre sua produção, sua casa e sua vida. E quando as crianças crescem aprendendo sobre isso, estamos formando uma nova geração que vai continuar esse trabalho”.

Além de permitir uma participação mais efetiva nos cursos, essa estrutura também fortalece a posição das mulheres dentro da comunidade. "As capacitações promovem a troca e a construção do conhecimento de forma coletiva, valorizando os saberes presentes nas comunidades e, consequentemente, o conhecimento resguardado pelas mulheres. A valorização desses conhecimentos pode apoiar na construção de um maior empoderamento e protagonismo das mulheres", acrescenta.

A expectativa é que, com a continuidade dessas iniciativas de capacitação, mais mulheres se sintam encorajadas a assumir papeis de liderança dentro de suas comunidades, promovendo mudanças em suas próprias vidas e também na coletividade.

"Historicamente, as mulheres sempre assumiram muitas responsabilidades no lar, no cuidado com os filhos, no manejo dos quintais e até na produção agrícola. Essa carga de trabalho dificultava a participação em atividades de formação. A Ciranda Infantil surge como uma solução para que essas mulheres tenham mais autonomia e possam aproveitar os cursos com qualidade", destaca Joelma.