Por Rodeildo Clemente - assessoria de comunicação do INSA
O levantamento de dados realizado na 6º edição do Boletim de Monitoramento dos Reservatórios constatou que o volume de água armazenado na região semiárida é de apenas 30%, um cenário que se agrava com o fim do período chuvoso e a falta de gestão integrada e eficiente das águas.
Se o brasileiro se familiarizou com um termo nos últimos meses, foi: “crise hídrica”. Os jornais, rádios e programas de televisão diariamente noticiam sobre a escassez e o racionamento de água ou a previsão de falta de chuvas em quase todas as regiões do país. Nem mesmo o Semiárido, historicamente a mais adaptada à falta de chuva das regiões brasileiras, deixou de sentir o impacto de 4 anos consecutivos de estiagem.
Meteorologistas acreditam se tratar do período seco mais crítico dos últimos 50 anos, com valores de precipitação muito abaixo da média histórica. Esse regime atípico de chuvas diminuiu o volume de água armazenado com impacto negativo sobre o abastecimento público na região.
O Instituto Nacional do Semiárido (Insa), Unidade de Pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), publica mensalmente um boletim para compartilhar informações atualizadas sobre a disponibilidade de água no Semiárido. Nesta 6º edição foram monitorados 453 reservatórios, cuja capacidade máxima de armazenamento de água soma 40,26 mil hm³. Ocorre que atualmente, o volume armazenado é de apenas 30% desse total.
Se a análise se detiver apenas nos estados, se verá que hoje, 40% dos reservatórios de Pernambuco já entraram em colapso. No Rio Grande do Norte, somente um único açude se encontra com volume de água em seu nível máximo, e na Bahia, quinto maior estado brasileiro em extensão territorial e quarto em número de habitantes, restaram apenas nove reservatórios cheios. Em um panorama regional, apenas 4% dos reservatórios se encontram com o volume acima de 90%, e 27% estão com os volumes entre 10% e 30%.
Água: capte, reuse e gerencie
O consumo de água só aumentará com o passar do tempo, crescimento da população e econômico. O que fazer para se adaptar melhor a um período seco de longa duração no futuro?
Para se evitar uma repetição dos incômodos presentes, em um futuro muito próximo, três hábitos precisam ser acrescentados no cotidiano das pessoas, empresas e governos: captar água de chuva, reutilizar esgotos tratados e, principalmente, gerenciar de forma racional os recursos hídricos disponíveis. Se a população, governo e empresas falharem em incorporar essas atitudes em sua rotina e planejamento de políticas públicas e privadas, inevitavelmente, essa situação irá se repetir, talvez, até com mais intensidade.
Outra dificuldade enfrentada é o desperdício de água. No Brasil, por conta de vazamentos, ligações clandestinas e outras irregularidades dentro das residências, o desperdício chega ao índice de cerca de 40%. Mais investimentos no setor de saneamento e autofiscalização por parte dos consumidores se reverteriam em lucro para as empresas, contas de águas mais baratas e em uma maior quantidade de água disponível para a população.
Insa: planejamento hídrico para o Semiárido
Os projetos do Insa sobre o uso de água prezam pela valorização do recurso hídrico como um bem público finito e pela necessidade de uma utilização mais racional e sustentável. Atualmente, é desenvolvida pelo Núcleo de Recursos Hídricos pesquisa sobre a viabilidade do uso de águas residuárias de origem doméstica na recuperação de áreas degradadas, utilizando espécies florestais nativas da Caatinga com potencial madeireiro, como a Braúna, Ipê roxo, Freijó, Aroeira branca e Catingueira.
Também são realizados estudos sobre captação de águas de chuva – o “Projeto Águas” instalou uma Unidade Demonstrativa de Pesquisa em um assentamento na zona rural de Campina Grande (PB), garantindo segurança hídrica para 38 famílias. Na experiência, foi implantada uma cisterna do tipo calçadão com capacidade para armazenar 300 mil litros de água, que conta com sistemas de tratamento e bombeamento movidos a energia solar.
O Insa, para exemplificação, tornou sua sede administrativa quase autossuficiente em água, por meio da implantação de um sistema de captação de água de chuvas, que em regime pluviométrico normal fornece uma independência hídrica de 10 meses.
Experiência em Santana do Sérido (RN)
A maior parte das cidades brasileiras encontra dificuldade para destinar corretamente a água oriunda dos esgotos domésticos e industriais. O Semiárido brasileiro contabiliza hoje 1.135 municípios, com igual número de redes de esgoto, que se fossem tratadas forneceriam água para a prática agrícola e atividade industrial. Segundo Salomão Medeiros, pesquisador do Insa da área de Recursos Hídricos, “a produção diária de esgotos funcionaria como verdadeiros rios perenes, atualmente desperdiçados em uma região que sofre com a estiagem”.
No município de Santana do Seridó (RN), um projeto inovador está reutilizando o esgoto tratado para produzir alimento para o gado. A proposta do projeto “Palmas para Santana” é transformar os 258 mil litros de esgoto gerado por uma população de 2.526 habitantes em água limpa para a irrigação de um banco de forragem, composto por espécies como a palma forrageira, feijão guandu e sorgo.
Acesse o Boletim de Monitoramento dos Reservatórios do Semiárido