Conviver. No dicionário é verbo transitivo; no sertão, é relacionar-se intimamente, fazer parte de. Conviver é sinal de esperança, bonança e recomeço. Ato de cuidar que afasta o homem dos descaminhos e o faz celebrar cada dia como uma reconquista; o torna forte, não pela força bruta, mas pela capacidade de sorrir diante do desconhecido.
Viver em comum não diz respeito apenas às relações entre homens e mulheres, é também plantar sem desnudar a terra, colher sem ferir o chão. Dividir é premissa de sertanejo, que reparte em partes as partes que lhe compõem: o chão, o alimento e o trabalho.
No semiárido de hoje não existem distâncias. O agricultor vivencia o novo sem abandonar o empírico e se adapta a isso com a facilidade de uma criança. É um sujeito aberto, tanto para adquirir como para ensinar, num processo mútuo de troca de experiências que acontece periodicamente através de intercâmbios. Aqui, eles aprendem um novo vocabulário: políticas públicas, segurança alimentar, biodiversidade, sistematização e essas novas palavras passam a complementar o repertório dos discursos diários, seja em casa ou nas associações.
Eles e elas, como exigem ser tratados, assumem o que aprendem e repassam com eloquência o aprendido, livres do preconceito linguístico que aprisiona o povo das cidades. O agricultor não é mais tão refém do tempo e da chuva, ele agora é chamado de experimentador, tomando para si a condição de professor, no papel do "mobilizador social".
A agricultura familiar deixa de ser apenas um meio de sobrevivência e aparece liderando estatísticas nacionais. Um trabalhador rural sozinho passa despercebido na economia global, mas quando se junta a outros milhares, transforma uma cultura, antes esquecida, numa grande rede internacional de negócios, interfere no Produto Interno Bruto e modifica as condições sociais do país.
No campo, não existem limites, agora quem produz come. Mais que isso, vende e compra. As famílias têm geladeiras, microondas, máquinas de lavar e computador. A agricultura familiar não se faz somente nas propriedades, ela se reconstrói nos aviões, na internet e nas feiras nacionais de produtos agroecológicos.
Conviver é associar-se. Para Aristóteles, os indivíduos não se associam apenas para viver, mas para viver bem, e ninguém pode garantir o seu próprio bem sem a família. Assim, a agricultura familiar reinventa a sociedade, seguindo um processo de combate às desigualdades políticas e sociais e nunca aos fenômenos naturais, a isso, eles se adaptam.
Tecnologia: do computador à agroecologia
As histórias da nova agricultura se confundem no semiárido potiguar. As experiências estão interligadas por uma rede social bem solidificada que permeia por todas as regiões do Estado. No município de Umarizal, na região do Alto Oeste, Neto da Caiçara, 44, não entende nada de informática, mas de todas as máquinas que possui, o computador parece ser seu brinquedo favorito. Tanto que ele é o único agricultor de sua região que possui um blog pessoal.
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