O Sertão vai virar mar. Um mar de pedras e areia, sem vida, deserto. Não é profecia, é fato em consumação, previsto por estudos científicos, alertado pela Organização das Nações Unidas (ONU). O clima castiga, o homem tortura, a terra definha. Nos últimos anos, o índice de desertificação do semiárido nordestino avançou légua sobre légua. O êxodo rural ainda segue a passos largos. Em Alagoas, mais de 27% do território já começou a virar deserto. São áreas críticas, quase todas na caatinga, agonizantes entre a seca e chuvas torrenciais que caem como lâminas a dilacerar o resto de chão que teima em brotar. São torrões gigantescos onde seres, como o juazeiro e o umbuzeiro, penam sob ameaça de extinção. O mandacaru amarelece, o pau-pereira engelha e a palma só nasce com adubo.
Pesquisadores tentam montar plano de combate
O açoite secular que a natureza e o povo conhecem bem é o objeto de estudo de pesquisadores de várias áreas do conhecimento escalados para elaborar o Plano de Ação Estadual (PAE) de Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca. O trabalho baseado nos princípios da Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação deve ser concluído este ano e vai propor ações concretas para amenizar a degradação do meio ambiente, orientar sobre o uso adequado do solo e estabelecer mecanismos de fixação do homem no campo.
Para mostrar um pouco do avanço das áreas desérticas no Estado, a Gazeta de Alagoas acompanhou uma expedição composta por técnicos da Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos, Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Instituto Xingó e Movimento Minha Terra à zona rural do município de Ouro Branco, no médio Sertão alagoano, a 245 quilômetros de Maceió.
Lagoa se transforma em descampado
Ainda na cidade, os técnicos param na lagoa seca de Ouro Branco. Ao invés de água, pedregulhos imensos saltam do chão esturricado e formam um cenário desolador. Em plena zona urbana, a ex-lagoa parece um oásis ao avesso, um descampado deserto arrodeado de casas.
Para o professor da Ufal e integrante do Instituto Xingó, Paulo Lima, engenheiro civil com mestrado em Recursos Hídricos, trata-se de um exemplo claro de degradação do meio ambiente. “Se tivesse um sistema de tratamento de esgoto, a situação seria completamente diferente, isso aqui poderia ser usado como uma área de lazer ou mesmo um criatório de peixes”, sugere o engenheiro, identificando um dos problemas a ser enfrentados no combate à desertificação.
Caatinga agoniza diante da queimada
Ao deixar a cidade incrustada na rocha, a estrada de barro vermelho já sinaliza para a aridez da zona rural de Ouro Branco. A paisagem são lajeiros e capoeira braba, o pasto está verde, mas a vegetação nativa padece nua, em galhos ariscos e arbustos teimosos. Casas ficam cada vez mais distantes umas das outras, espaçadas, rareiam à medida que se adentra na caatinga inóspita e dão a impressão que um<