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08.12.2009
COP do mundo
Jornal - Diário de Pernambuco


Por Miriam Leitão

A COP-15 bombou. Antes de sair do Brasil já recebi e-mails da ONU informando que estava limitando credencial para jornalista, que ONG teria cota e que o Bella Center cabe apenas metade dos inscritos. No aeroporto de Paris, na escala, conferi os jornais: em todos, este era o assunto da manchete. No Bella Center, uma fila gigantesca congelava do lado de fora.

Ontem, a manhã foi dos discursos. O primeiro-ministro da Dinamarca, o dono da casa, Lars Loekke Rasmussen, deu um recado em que nas entrelinhas tentou retomar a ideia de um acordo sem substância. O discurso de Rajendra Pachauri, presidente do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, foi atravessado pelo "climagate": a história dos e-mails trocados por cientistas da universidade inglesa de East Anglia, que supostamente informa que teria havido distorção nos dados sobre mudança climática. Os e-mails já conseguiram um milagre: dar sobrevida aos céticos, ou seja, os que não acreditam nas evidências da mudança climática. Eles estavam em extinção e agora estão até dando entrevistas.

A negociação mesmo técnica só começa na quarta-feira. Mas muita conversa já está acontecendo. Os bastidores passados por observadores e grandes ONGs são de que essas conversas já estão quentes. Há uma articulação do Brasil, Índia, China e África do Sul para preparar um documento à parte caso eles considerem que houve uma negociação direta entre os países ricos para reduzir seus compromissos financeiros. A África do Sul deixou para anunciar na véspera da conferência que cortará 34% da projeção das emissões até o ano 2020 (mesmo método usado pelo Brasil), mas condicionou ao aporte financeiro dos países ricos. O Brasil deu uma coletiva aqui para a imprensa brasileira em que bateu neste ponto: é preciso mais dinheiro para financiar a redução dos efeitos da mudança climática e se adaptar a ela.

Há outra articulação que divide as delegações ao meio. A ideia é ter um documento enxuto assinado pelos governantes que seria a declaração de Copenhague; sem ligação com o texto que vem sendo exaustivamente negociado entre os técnicos. Se for isso, haveria dois documentos: o dos chefes de Estado com retórica e o dos técnicos e diplomatas com os compromissos.

As negociações do clima têm 17 anos e as "partes" já se reuniram em muitas cidades, mas três reuniões marcaram História: Rio em 92, Kioto em 97 e esta. Ontem, o jornal Liberation, da França, numa reportagem sobre toda história das negociações climáticas, escreveu: "Tudo começou no Rio."

Depois, o outro grande evento foi em Kioto, onde foi fechado o acordo. É cedo para falar que o encontro em Copenhague será histórico? Há uma sucessão de fatos que a tornam única. Yvo de Boer, o secretário-executivo da Convenção do Clima, disse que esta reunião é um turning point. A virada acontece porque nunca tantos e tão diferentes países foram para uma reunião com tantos compromissos.

Nada é simples nesta grandiosa tarefa de refazer a relação da humanidade com seu planeta. Os países desembarcam aqui decididos a defender primeiro seus

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