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17.11.2009
O clima não espera
Jornal - Diário de Pernambuco


Por Miriam Leitão

Há um ano o mundo concordou: era preciso adiar para Copenhague a chance de um acordo climático. O novo presidente americano, Barack Obama, estava assumindo e, com ele, tudo mudaria. Agora, Barack Obama quer mais um ano. A China concorda. Um perigoso retrocesso acaba de acontecer nas negociações do clima. Os maiores emissores conspiram contra o acordo.

Há quem avalie que realisticamente não há mais tempo para um acordo sólido em Copenhague, e que sem os Estados Unidos nada se fará de realmente importante nesta área. A questão é que agora há impulso, pressão, ansiedade. As ONGs, a imprensa, a opinião pública, os cientistas, as grandes empresas do mundo, num raro momento de concordância, formaram uma forte corrente em torno de Copenhague, com contagem regressiva, mobilização e compromissos. Agora há, como se diz em inglês, momentum. O assunto está no centro. O momento é este e nenhum outro.

Na semana passada, o Brasil se moveu. O debate interno do país, o jogo de forças dentro do governo, a pressão de pioneiros deste debate, a carta das grandes empresas, tudo junto fez o país sair da cômoda negação para o compromisso voluntário com corte das emissões. Pode-se discutir se os compromissos deveriam ser em relação às emissões atuais, ou futuras. Pode-se dizer que os números não parecem palpáveis porque falta o principal que é o inventário atualizado das emissõesbrasileiras. Há vários pontos em discussão. O que é indiscutível é que o Brasil atravessou uma ponte e foi para o lado onde, há muito tempo, deveria estar.

Na reunião de cúpula da ONU, o novo primeiro-ministro japonês, Yukio Hatoyama, aumentou a oferta japonesa. Em vez de 20%, o corte seria de 25% em relação ao nível de 1990. A Europa tem divisões, mas os europeus já perseguem metas criadas por Kioto. A China, na mesma reunião da ONU, se comprometeu pela primeira vez com algum tipo de medida: reduzir a densidade de carbono por unidade do PIB, ou seja, manter o crescimento, mas emitindo menos. A Inglaterra assumiu o compromisso de cortar em 34% suas emissões em relação a 1990. O mundo está em movimento. E ele se move no complexo jogo de pressão que acontece dentro dos países. Todos têm dilemas e conflitos a superar. A partir de ontem, em cada país, a turma do "deixar tudo como está" se sente aliviada, porque ganhou mais um ano; o planeta perde, perigosamente, um tempo precioso.

Em Bangcoc houve conflito aberto entre Estados Unidos e China. O representante americano disse que era preciso fazer um novo acordo, e não apenas avançar a partir de Kioto. A China considerou que isso era uma traição, uma forma de minar o acordo, porque o esforço de recomeçar do zero é protelatório. Em Cingapura, Estados Unidos e China concordaram. Ontem, os dois brigaram sobre liberdade da internet, direitos humanos, e Mianmar. No domingo, se entenderam sobre adiar para o ano que vem um tratado que seja legalmente obrigatório. Dizem que só será possível um acordo "politicamente vinculante" em Copenhague. Mas há dois anos, em Bali, quando foi feito o chamado Mapa do Caminho, era exatamente isso que se queria: ter um quadro político, e uma série de etapas intermediárias da negociação. Andou-se muito pouco.

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