Por Daniel Guedes
Em 30 anos, o Sertão de Pernambuco pode tranformar-se num deserto inabitável, assim como diversas áreas na África. A previsão catastrófica parece exagerada, mas é feita com base em estudos científicos. "Se continuarmos a desmatar e a queimar a caatinga num processo de degradação tão intenso como o que a gente vem observando nos últimos anos, é possível que, em três décadas, tenhamos um quadro desses. É um futuro muito próximo. Estaremos vivos para testemunhar", alerta a coordenadora do Laboratório Meteorológico de Pernambuco (Lamepe), Francis Lacerda.
Isso pode soar como messianismo, roteiro de ficção científica ou conversa de ambientalista, mas não é. A previsão é feita com base numa constatação alarmante: nos últimos 60 anos, a média de temperatura aumentou 3ºC (Celsius). Muitos graus em poucos anos. "O clima não muda em questão de décadas. Muda depois de centenas e milhares de anos. Nos causou espanto ver esse aumento com valores tão significativos, em tão pouco tempo", diz Francis.
O estudo ainda não está concluído. Deve ficar pronto somente em 2010. Mas já constatou que, nas últimas seis décadas, os maiores aumentos estão nas cidades de Araripina, no Sertão, a 683 quilômetros do Recife, e em Vitória de Santo Antão, na Zona da Mata, distante 45 quilômetros da capital pernambucana. Na primeira cidade, a temperatura máxima subiu de 33ºC para 37ºC. Já a mínima caiu de 17ºC para 16ºC. Em Vitória, a máxima pulou de 34ºC para 36,5ºC. A mínima praticamente não sofreu alterações. Ficou estável em 16,5ºC.
Esses valores não subiram de uma hora para outra, de forma abrupta. Pelas contas da coordenadora do Lamepe, o aumento foi, em média, de 0,5ºC por década. "Esses aumentos são gradativos, não aparecem da noite para o dia. Não foi um fenômeno extremo que provocou. Parece acompanhar a questão do desmatamento da caatinga no local".
Este ano, as consequências do aumento de temperatura já começaram a mostrar seus sinais. Os primeiros meses de estiagem em Pernambuco já levaram 28 municípios do Sertão e do Agreste a decretar estado de emergência. Só no Sertão, 19 cidades pediram ajuda do governo para enfrentar a falta de chuva.
O número ainda é menor que o do ano passado, quando, segundo a Coordenação de Defesa Civil de Pernambuco (Codecipe), até o final de setembro, 39 municípios já haviam decretado estado de emergência.
Francis Lacerda - LamepeO mais assustador é que os piores meses ainda nem chegaram. Novembro e dezembro são os mais complicados no que diz respeito à estiagem. Para muitos, isso é sinônimo de falta de itens básicos para a sobrevivência. Falta água. Cerca de 80 municípios pernambucanos dependem de carros-pipa.
Não há soluções milagrosas que possam barrar o aquecimento global nessas áreas. Mas, para a pesquisadora do Lamepe, uma medida que pode melhorar o conforto térmico da região é parar o desmatamento e<