Por Sandra Flosi
Nos últimos cinco anos, foram construídas cerca de 10 mil fontes de água segura em todo o país. O Programa Quinquenal 2005-2009 previa a construção de 8 mil. Mesmo assim, o abastecimento de água chega a apenas cerca de 60% da população nas zonas urbanas e pouco mais de 50% nas zonas rurais. O projeto do governo agora é aumentar a provisão e o acesso à água potável para 69% da população até 2014.
Ao recorrer a fontes não potáveis de acesso à água, a população fica vulnerável a doenças como diarréia, sarna e cólera. Sofrem especialmente os mais velhos e as crianças. Em lugares nessas condições, o índice de mortalidade infantil é sempre muito alto e a expectativa de vida muito baixa. Nas zonas urbanas, Moçambique sofre ainda o grave problema do não cumprimento por parte dos cidadãos das regras básicas de higiene e limpeza dos tanques domiciliares de armazenamento, as caixas d’água.
Para garantir a sustentabilidade das fontes que está implantando ou reabilitando, o governo moçambicano contratou organizações não governamentais e empresas da área social para acompanhar as atividades. Além disso, foram organizados comitês de água em todos os distritos beneficiados.
Mais uma vez, como quando contei aqui sobre o esforço de Moçambique em levar energia elétrica a todos, no texto intitulado Luz para Moçambique, não há como deixar de comparar com o Brasil. Lembrei, claro, do programa de cisternas que está permitindo que milhares de brasileiros tenham, pela primeira vez em suas vidas, acesso à água durante todo o ano.
Nas minhas andanças pelo Norte e Nordeste do Brasil, especialmente o Piauí, pude ver o quanto essas regiões são castigadas pelo clima. Quando chove, as cidades chegam a alagar, famílias inteiras ficam desalojadas e muitas perdem suas casas e até terrenos para sempre, vítimas de desbarrancamentos. Foi emocionante ver chegar a essas pessoas a construção de cisternas em grande quantidade.
A cisterna é uma tecnologia social para a captação e armazenamento de água da chuva e representa solução de acesso a recursos hídricos para a população durante os meses mais secos, uma vez que permite armazenar de 16 mil a 52 mil litros de água. Mais uma vez sou obrigada a comparar a realidade com a vida boa que sempre tive, nunca tendo passado sede de verdade. Para quem, sempre que sente sede, tem acesso à água em questão de minutos, bastando ir até a cozinha ou entrar em um bar para comprar uma garrafinha do líquido da vida, é quase impossível realizar a abstração de imaginar viver sem esse conforto.
Com o programa Um Milhão de Cisternas, o Brasil aplicou diversas tecnologias sociais que podem ser realizadas aqui em Moçambique, como a cisterna-calçadão, a cisterna de ferrocimento, cisterna adaptada para a roça, entre outras.
Um dos pontos importantes do programa de cisternas brasileiro é que, a exemplo de outros programas, como o Bolsa Família, ele não é apenas de transeferência de bens, inclui ações pedagógicas e de gerenciamento do sistema por cada família beneficiada. Isso é uma lição importante a ser aprendida por Moçambique, para que não tenhamos mais aqui o problema da falta de limpeza dos reservatórios de água por parte de quem já tem acesso a este líquido tão precioso.