O Encontro sobre manejo de microbacias surgiu da necessidade de se discutir a degradação que sofrem as fontes de águas superficiais e subterrâneas, envolvendo a bacia hidrográfica do Rio São Francisco. A socialização das experiências nas intervenções nas microbacias do Rio Mocambo (Curaçá), do Rio Salitre (Morro do Chapéu), e do Rio dos Cochos (Januária) foi o momento mais importante do intercâmbio, pois reacendeu a chama da luta e o interesse de continuar o longo processo de recuperação.

A Associação dos Usuários da Sub-bacia do Rio dos Cochos (Assubac) relatou que, após 15 anos de trabalho, hoje colhe os frutos de uma iniciativa de agricultores/as de Januária, que viram os recursos hídricos diminuírem após o desmatamento realizado para a plantação de eucalipto no entorno do cerrado entre as décadas de 1970 e 80, o que assoreou o rio e comprometeu a produção familiar de quem estava localizado ao longo do rio.

Segundo Jacy Borges de Souza, agricultor e secretário da Assubac, esse foi um trabalho longo com muitos desafios, tanto de mobilização da sociedade como de ações voltadas a recuperação das microbacias do rio. “Nós fizemos um diagnóstico da situação e iniciamos uma série de ações nas microbacias do Rio dos Cochos. Nós agricultores e agricultoras nos organizamos em associações, junto com parceiros e trabalhamos de forma compartilhada, em uma gestão popular. Hoje, nós desenvolvemos as potencialidades locais, como o extrativismo e apicultura, e ainda estamos lutando para que o programa tenha continuidade para as próximas gerações”, relatou.

No primeiro dia do encontro, após a socialização de experiências, os/as participantes puderam ver na prática a situação de degradação das microbacias da localidade de Riacho Grande em uma visita técnica e discutir possíveis soluções para a recuperação daquela área. Esse foi um momento de reflexão e de compartilhar conhecimentos técnicos. Para Alessandro Santos Santana, colaborador do Irpaa, a socialização foi importante para animar a comunidade de Riacho Grande a realizar ações para minimizar a degradação do rio. “Nessa visita pudemos observar os sérios problemas ambientais que sofre a microbacia de Riacho Grande e quando discutimos isso com a própria comunidade e ouvimos a experiência de outros lugares que estão a frente em ações, eles podem se animar e fazer algo concreto para recuperar essa microbacia”, ressaltou.

No segundo dia, Thiago Batista Campos, assessor técnico da AGB Peixe Vivo, apresentou o passo a passo para a elaboração de um projeto hidroambiental para ter acesso aos recursos financeiros do Comitê. Para ele, a participação da comunidade é fundamental para a recuperação das microbacias: “é impossível você fazer qualquer trabalho de recuperação ambiental sem que a comunidade esteja de acordo. O projeto não é feito para o rio, para a bacia, e sim, para as pessoas, para a comunidade”, concluiu.

O Encontro sobre manejo de microbacias foi um intercâmbio organizado pelo pela Articulação Popular São Francisco Vivo, que na região conta com a participação do Irpaa, CPT, CPP, Articulação de Fundo de Pasto, etc.