No município, representantes das 40 famílias agricultoras selecionadas para fazer parte do programa são incentivadas a desenvolver o manejo agroecológico, que promove a convivência harmônica do homem com a natureza, dialogando com temas relacionados à gestão da água e cuidados com os solos em ações de capacitação.
Serão implementadas 29 cisternas de enxurrada, quatro cisternas calçadão e sete barreiros trincheira familiar que são importantes tecnologias para o uso da água na agricultura, a fim de fomentar a soberania e segurança alimentar de famílias do Semiárido. “Foi uma coisa muito boa que aconteceu na minha vida. Eu tô muito feliz”, afirmou o agricultor Pedro Calado, que mora na comunidade Mata do Estado e desenvolve com a família plantio de flores, produções agroecológicas de hortaliças e plantas medicinais.
A Cofaspi executa o P1+2 não só em Capim Grosso, como também no município de Jacobina, onde estão sendo implementadas outras 29 tecnologias para captação e armazenamento de água (cisternas-calçadão) nas comunidades Estrada Nova e Pau Ferro, localidades em que também foram realizados cursos sobre gestão de água e fundamentos da agroecologia. “A princípio a tecnologia é voltada para a produção e consumo familiar de alimentos sadios, agroecológicos. E depois, se a família começar a produzir em excesso, os produtos que eles não consumirem a gente pode tentar levar para as cadeias de comercialização”, afirmou o coordenado do P1+2 na Cofaspi, João Nunes.
Para compreender ainda mais sobre a agricultura, com técnicas que preservam os recursos naturais do Semiárido, agricultoras e agricultores experimentadores participaram, em junho, dos cursos de Gerenciamento de Água para Produção de Alimentos (Gapa) e Sistema Simplificado de Manejo de Água para Produção (Sisma) do P1+2, socializando saberes a respeito da produção de alimentos saudáveis e o uso da água sem desperdícios. Segundo a técnica em agropecuária, Átila Sant’ana, que colaborou na mediação desta atividade, foram abordados temas como organização comunitária, alternativas de convivência com o Semiárido, soberania e segurança alimentar, economia solidária, preservação ambiental, além de distinções entre o modelo de agricultura convencional e as práticas agroecológicas.
Durante os cursos, também foram realizados momentos práticos sobre técnicas de nutrição dos solos e aproveitamento da água das chuvas. Na Casa do Menor, em Capim Grosso, agricultoras e agricultores acompanharam o processo de construção dos canteiros econômicos, essencial para diminuir o uso da água na irrigação das hortaliças produzidas pelas famílias agricultoras. Os participantes também esclareceram dúvidas sobre o controle de insetos prejudiciais às plantas, ouvindo as sugestões de uso dos biofertilizantes feitos com produtos naturais, como a mistura de água e pimenta, que ajuda a fazer o controle, por exemplo, do inseto popularmente conhecido como lagarta. Sobre esta questão, um dos mediadores da atividade prática, o técnico agropecuário Marcones Rios, que trabalha na Casa do Menor, alertou ainda: “Se utilizarmos sempre o mesmo defensivo, o inseto se torna resistente, por isso é bom ter uma diversidade de defensivos naturais”.
Outra atividade sugerida às agricultoras e agricultores foi o processo de produção de um composto que contribui para nutrir os solos e é feito com a reutilização de folhagens, cinza, esterco, casca de ovo, restos de alimentos e sobras de frutas, entre outros produtos. O agricultor Altino Ribeiro da comunidade Tigre, que tem áreas de produção de verduras, destacou que o curso foi uma oportunidade de mais aprendizados. Ele pretende compartilhar os saberes com outras pessoas que ainda não conhecem essas técnicas essenciais para a proteção do meio ambiente e da saúde das famílias brasileiras.
Agroecologia - O uso indiscriminado de venenos ou agrotóxicos em lavouras prejudica o ecossistema. Além de afetar o ciclo do meio ambiente, provocam danos à saúde de quem aplica o produto e também aos consumidores/as dos alimentos contaminados. Fugindo dessa lógica, famílias agricultoras que vão conquistar as tecnologias que armazenam água para produção de alimentos, através de políticas públicas e projetos sociais, são incentivadas a desenvolver a agroecologia. A agrônoma Ana Maria Primavesi, uma das principais pesquisadoras da agroecologia, descreve no seu livro “O solo: A base da vida em nosso globo” que a “agroecologia não é uma alternativa excêntrica de cultivar o solo, mas a única possibilidade se pretendemos sobreviver em nosso planeta”.