Ao longo da sua história, as famílias agricultoras do semiárido foram desafiadas de forma permanente a exercitar sua criatividade para desenvolver seus agroecossistemas produtivos para garantir sua alimentação e riqueza ajustados às especificidades ecológica, social, cultural e econômica da região. O desenvolvimento de estratégias locais de uso e conservação da Agrobiodiversidade se constituiu como fator determinante para alcance deste objetivo, como também foi responsável pelo desenvolvimento de uma ampla diversidade genética de espécies cultivadas e conhecimentos a elas associados. O desenvolvimento de estratégias familiares e comunitárias de gestão dos estoques de sementes foi igualmente importante para fazer frente ás características climáticas da região.
Há, no Brasil, um contexto de prevalência de políticas públicas orientadas para distribuição de grandes volumes de sementes de poucas espécies. O Programa Sementes do Semiárido, realizado em 202 municipios de todo o Semiarido, permitiu a valorização dos conhecimentos sobre as sementes crioulas (sem transgenia) e essa recuperação é uma ação de enfrentamento a um projeto de desenvolvimento do agronegócio que nega esse saber tradicional para dar lugar a uma linha de indústria agrária.
A discussão das sementes apaixonou a todos dos territórios envolvidos e isso mobilizou as comunidades e parceiros locais. O tema das sementes articula também com o modo de produção agroecológico - que não agride os recursos naturais como a água e o solo, a autonomia do trabalho das mulheres e a incidência disso em politicas públicas.
Durante esta semana, nos dias 24 e 25 de maio, os coordenadores e as coordenadoras das organizações participantes do Programa estão reunidos numa Oficina de Avaliação no Recife, com apoio do ActionAid. "Os agricultores já montaram suas estratégias de evitar a contaminação dos seus milhos. O que a ASA faz é revelar essa estratégia. E essa revelação vai criar mais disputa política, que neste momento, no Brasil, se mostra muito delicado", disse Carlos Magno, da organização pernambucana Centro Sabiá. Na mesma linha, Giovanne Xenofonte, coordenador do Incidência Política da Ong Caatinga (Ouricuri-PE) enfatizou que "precisamos estar cada vez mais preparados para fazer esse embate com qualidade". Vinte e duas organizações executam o Programa Sementes do Semiárido em nove estados brasileiros e uma delas, a Cáritas Ceará, produziu este vídeo sobre a ação: