Na comunidade de Barreiros, no município de Solidão, Sertão do Pajeú, mulheres organizadas ainda enfrentam preconceitos por serem do sexo feminino e dificuldades no acesso à direitos. Há oito anos, agricultoras e artesãs que compõem a Associação das Mulheres Produtoras Rurais Nossa Senhora das Graças, travam uma luta diária para serem reconhecidas como sujeitos de direitos.

A disputa está em vários campos, seja com o poder municipal, a qual tiveram uma vitória com o reconhecimento oficial da Associação, mas que ainda há outros entraves no acesso às políticas públicas; ou com o machismo dos homens da própria comunidade. “Nenhum apoio do poder publico e nem do sindicato. Queremos ser reconhecidas, e são negados direitos. Nós somos unidos, só tem direito a receber o marido, porque ele é associado como agricultor. Nós temos consciência de que só um tem direito de receber, mas nunca é para as mulheres. Queremos respeito como mulheres agricultoras.”, presidenta Gilda Simões.

Diante deste contexto nada favorável, as 32 mulheres se mantém unidas desde 2005 com reuniões periódicas, e sempre em busca de voar mais alto. O início não foi nada fácil, conta Gilda Simões, presidenta da Associação. “Fazia parte de uma associação mista, e a maioria era mulheres que participavam das reuniões. Comecei a cutucar as mulheres para criar um grupo, para que a gente tivesse um momento só nosso, conversar sobre assuntos que não podia ser na frente dos homens”. As associadas debatem sobre a vida das mulheres e a convivência com o semiárido, como a roça, a produção, o bioma caatinga, o artesanato, plantas medicinais e violência. Com a assessoria técnica e social da Casa da Mulher do Nordeste passaram a ter mais cuidado com o meio ambiente e um olhar de gênero. “Hoje sei como deve ser feito o plantio sem prejudicar o meio ambiente. E através das formações sabemos a dificuldade que as mulheres enfrentam para sair da violência.”, disse Luzia Porfírio, associada.

As mulheres já foram beneficiadas pelo P1MC e o P1+2, implementados pela Casa da Mulher do Nordeste. E depois a CMN continuou a assessoria com o ATER Agroecologia e o Mulheres na Caatinga. Este último com o apoio do Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN), do 22º edital do Programa de Pequenos Projetos Ecossociais (PPP-ECOS), tem sido muito bem recebido pelas mulheres da Associação, com aprendizados e o resgate das plantas nativas. “Aprendemos sobre as plantas, por exemplo. Pensamos que a algaroba era uma planta nativa, mas aprendemos que ela prejudica nosso solo, e ela é ofensiva por que acumula muita água. E hoje temos plantas nativas para a gente plantar, e tenha convivência com o semiárido, como o umbuzeiro , a caatingueira.”, contou Luzia Porfírio. Além disso estão ansiosas para receber o fogão agroecológico, previsto no projeto. Aqui serão beneficiadas 23 mulheres que entrarão com contrapartida do recurso do pedreiro e do plantio das 100 mudas para cada mulher.

A auto-organização das mulheres mantém vida a troca de conhecimentos, as discussões por direitos e políticas públicas, a comercialização de artesanato, o conhecimento pelo cultivo e por uma produção saudável. Há dois anos elas participam da Marcha das Margaridas, em Brasília, mobilização para sua atuação política. “A única associação de mulheres que foi daqui do local, foi a nossa. Fizemos rifa, nos mobilizamos para poder participar. É por que queremos ter o direito de lutar e de batalhar para ver as coisas como são, é importante estar lá”, disse Inês Damião, da associação.