Com a parceria do BNDES, serão implementadas mais 3,4 mil tecnologias de captação e armazenamento de água da chuva para produção de alimentos no Semiárido brasileiro. O investimento de R$ 46,8 milhões possibilitará a construção de cisternas-calçadão e cisternas-enxurrada, ambas com capacidade para guardar 52 mil litros de água, em 40 municípios da região, até novembro deste ano. Em 2014, o BNDES apoiou o processo de implementação de oito mil tecnologias de segunda água e, desde 2015, vem investindo nas ações do programa Sementes do Semiárido, que fortalece a estratégia de estocagem de sementes crioulas na região.
Nos depoimentos da ministra e do presidente do BNDES predominava um clima de confiança no trabalho da ASA, abertura e disposição para encontrar fontes de financiamento, impedindo assim a não interrupção das ações de convivência com o Semiárido propostas pela rede ASA.
“O apelo do Semiárido brasileiro ao BNDES é que precisamos identificar mais modalidades de apoio a essas ações que estão resistindo, mas levamos um tombo”, provocou Naidison fazendo referência à queda vertiginosa dos recursos investidos nas ações de acesso à água. Em 2015, só foram entregues às famílias agricultoras 3% da quantidade de cisternas de água de beber construídas em 2014. “O nosso desafio é fazer que não parem essas ações. Se não, iremos devolver ao Semiárido a dimensão de abandono e não podemos fazer isso”, destacou Naidison.
O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, destacou alguns impactos do trabalho da ASA que vão além do acúmulo da água. “A ação resulta numa melhoria de renda, de autonomia e libertação das famílias”, apontou, acrescentando: “Temos o privilégio de trabalhar com a ASA pela sua confiabilidade, empenho, resultados antes do prazo. Isso nos move a fazer mais. Estamos abertos a examinar outras questões chaves que precisam ser endereçadas a esse processo. O investimento em área de baixo IDH [Índice de Desenvolvimento Humano] é motivo de alegria para o banco.”
Para a ministra Tereza, a “construção de 1,2 milhão de cisternas de água de beber, numa região onde cabem várias Franças, é um grande feito. Essa é a maior ação do mundo de convivência com o clima porque resulta de um processo que democratiza água, envolve populações locais, tem baixo custo, é eficiente e sustentável, recolhe a água da chuva sem gastar energia. Isso tudo reforça sua própria continuidade. A parceria com a ASA é um sucesso e promove outros processos para além da água. Formam-se pequenos oásis no meio da seca.”
“Vivemos nos últimos anos a maior seca da história, ninguém migrou, morreu. Isso passou batido pela imprensa”, alfineta a ministra. “Estamos fazendo de tudo para que a pauta da convivência com o Semiárido não retroaja na agenda. Estamos cavando possibilidades mesmo diante do ajuste fiscal”, assegurou.
Vinda de Jatobá, a primeira comunidade do Rio Grande do Norte reconhecida como descendente de quilombo, no município de Patu, a agricultora Sandra Silva testemunhou a transformação que sua comunidade passou depois da chegada das tecnologias de segunda água. “Era uma época de dificuldade, quando a gente estava comprando água, não tinha nem pros (sic) animais. Foram construídos 16 barreiros trincheiras e cisternas-calçadão. O barreiro já deu água e aliviou a vida da gente. Ter água na comunidade incentivou também as mulheres do quilombo a ir além.”