Contudo de lá para cá, não há em toda a história, um só século em que o sangue destes não tenha sido derramado em diversas batalhas travadas entre os seus direitos e a ganância do capital.

De um lado todo o poder do Estado brasileiro que fere a constituição quando aceita as portarias e Pl’s que legitimam o massacre indígena em solo brasileiro.

Podemos citar como armas letais ao povo indígena a PORTARIA 303, de 16 de julho de 2012, que torna as terras indígenas vulneráveis ao interesse político-econômico em detrimento do direito dos povos indígenas.

 PEC 2015 (em tramitação), a proposta retira do governo federal a autonomia para demarcar terras indígenas, de quilombolas e zonas de conservação ambiental. Pelo texto, caberá ao Congresso Nacional aprovar eventuais propostas de demarcação enviadas pela Fundação Nacional do Índio (FUNAI). Atualmente, o Ministério da Justiça edita decretos de demarcação a partir de estudos feitos pela FUNAI.

PL16/10 – Disponibiliza as terras indígenas e suas riquezas aos interesses do capital.

Analisando esse cenário se compreende a fala de Anastácio Peralta, Liderança Kaiowa em vídeo disponível na internet, ao afirmar:  “ O Brasil é um país que fala que é de todos mas é só de alguns. É da soja, do boi, da cana e do eucalipto. Não é do povo brasileiro. Aqui um boi vale mais que uma criança e a gente precisa lutar para continuar vivendo.”

Ante a tantas contradições os conflitos tornam-se inevitáveis e ao invés de proteger os interesses e a integridade indígena tem sido comum a institucionalização de Estado de exceção e consequentemente a barbárie como hora vivenciada pelo povo Guarani Kaiowá, no Mato Grosso do Sul, de modo especial nas duas últimas semanas.

O Judiciário que deveria ser a via de acesso para garantia dos direitos indígenas tem se mostrado muito mais como um entrave ao reconhecimento de muitas Terras Indígenas. Podemos citar aqui de modo simbólico o da TI Ñanderú Marangatu, que teve em 2005  por parte do STF uma liminar suspendendo o efeito da homologação desta terra e até hoje não tomou uma decisão definitiva no caso. Com isso, o procedimento administrativo de demarcação não pode ser concluído. Como conseqüência dessa omissão os indígenas vêm amargurando violações de direitos, constantemente noticiados e denunciados e pouco modificado.

Embora haja tantos conflitos não podemos negar que também existem alegrias, festas, conquistas, danças e rituais a serem celebrados.

Se por um lado esse mês de setembro tem sido marcado nacionalmente por esse massacre em terras sul-mato-grossense, em Sergipe o mês marca a festa da conquista do povo Xokó.

A data de 09.09.1979 marca a retomada do Povo Xokó em suas terras de origem: A Ilha de São Pedro, as margens do Rio São Francisco, no Município de Porto da Folha - SE. Da data da entrada na Ilha, a homologação das terras Caiçaras em favor do povo Xokó em 24/12/1991, foram 12 anos de luta e muita resistência. E por resistir a sua história e luta é que a data de conquista para eles é o dia 09 de setembro, por marcar a data em que o povo Xokó desperta para necessidade de lutar por suas terras e não o mês de dezembro, que marca o reconhecimento de posse, pois para eles o despertar para luta e a busca do direito são mais importantes que o poder de quem delibera.

E de lá para cá já se vão 36 anos de festa, resistência e tradição, como afirma Egídio, jovem Xokó: “A importância do dia 9 de setembro para nós povo Xokó, é não deixar morrer a memória da nossa luta pela retomada das terras que sempre foram nossa por direito. Manter viva nas novas gerações todo o sofrimento e resistência de nossos antepassados que deram a vida para que hoje possamos ter em nossas mãos a nossa terra, vida e dignidade”.