É importante frisar que a empresa teve quase o tempo total da audiência pública, em detrimento do debate com agricultores e agricultoras presentes na plenária, além de representantes da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), o Movimento dos Trabalhadores\as Rurais Sem Terra (MST), Comitê Pernambucano da Campanha Contra os Agrotóxicos e pela Vida, Federação dos Trabalhadores\as Rurais de Pernambuco (Fetape), Centro Sabiá, Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil (Feab).

A nova espécie de milho que a Monsanto é mais uma ameaça a segurança e soberania alimentar dos povos do Semiárido. O argumento da empresa é que o desenvolvimento de variedades transgênicas de alimentos tradicionais das populações camponesas pode contribuir para a diminuição da fome na região. Esse é um pressuposto negado, veementemente, por agricultores, agricultoras, organizações e movimentos sociais que atuam na região como mais uma ameaça aos territórios, a soberania e ao modo de vida camponês. “Gostaria de lembrar que nós também estamos preocupados com a fome do mundo e que 80% dos alimentos que chegam em nossa mesa não vem dos grandes latifúndios, vem da agricultura familiar. Se estamos preocupados com a fome temos que priorizar a agroecologia e realizar a reforma agrária”, concluiu Pedro Albuquerque, da Fundação Oswaldo Cruz e Secretario da Campanha Permanente contra os Agrotóxicos. Para Talles Reis, do MST o problema da fome não está na produção de alimentos e sim na distribuição e na concentração de renda.

Na audiência pública a Monsanto também defendeu o uso do Glifosato, agrotóxico que já teve o uso proibido em mais de 20 países. “As sementes transgênicas e o glifosato são feitos para matar, chamar de defensivo é um crime, a lei chama de agrotóxico. ”, afirmou na audiência Pedro Albuquerque. Para Maitê Maronhas, representante da ASA na audiência o pressuposto do uso de agrotóxicos é equivocado. “Nós não precisamos usar agrotóxicos para produzir alimentos e nem sementes transgênicas. As sementes mais adequadas para o Semiárido são as guardadas e selecionadas pelos agricultores e agricultoras”, afirma.

A região semiárida brasileira se destaca pela sua diversidade ambiental, cultural e pela resistência de seu povo que luta e inova para garantir a soberania e a segurança alimentar e nutricional. A solução para conviver com o clima Semiárido está no próprio Semiárido com sementes crioulas e tecnologias de armazenamento e estocagem de água como demonstram milhares de famílias e comunidades e não nas sementes transgênicas que foram criadas e são desenvolvidas por grandes empresas, “as sementes transgênicas são tão nocivas quanto os agrotóxicos, ambos deixam os agricultores reféns”, afirma João de Ronda, presidente do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais do município de Pombos.
Além da Monsanto, a Basf e a Bayer são exemplos de grandes empresas transnacionais que produzem as sementes transgênicas que, em várias partes do Brasil, estão contaminando variedades tradicionais cultivadas pelas famílias agricultoras. A ASA estimula que, no Semiárido, cada agricultor e agricultora se tornem guardiões e guardiãs de sementes crioulas.