O encontro reuniu cerca de 130 pessoas entre representantes camponeses das 53 Casas de Sementes da Região de Sobral e entidades – Cáritas Diocesana de Sobral, Cáritas Regional Ceará, Sindicatos dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais, Universidade Vale do Acaraú (UVA), Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), Terra Três e Esplar. Vale destacar ainda a participação das juventudes representada por grupos de jovens da comunidades ligado as Casas de Sementes.
No momento inicial houve a partilha da historia de luta e resistência do Assentamento Alvaçã Goiabeiras sobre a conquista do chão que nos acolhia. Sr. Pedro Celestino um dos moradores mais antigos da comunidade, ligado diretamente a causa da luta pela terra conta que a mesma era arrendada para 23 pessoas que não permitiam o cultivo, nem qualquer outro manejo dificultando a permanecia das famílias na comunidade. Desta forma organizaram-se entre homens, mulheres e crianças em um único canto que dizia “Assim o mundo não vai, não pode sobreviver, sem terra pra trabalhar e sem pão para comer” e foram à luta tendo a posse da terra em junho de 1987.
O olhar para a realidade aconteceu no trabalho em grupos para reflexão e monitoramento dos planejamentos feitos em cada município no inicio do ano de acordo com algumas questões direcionadas (desafios da água, da terra, da colheita). Após esse momento um representante de cada grupo compartilhou os desafios e as ações positivas que impulsionam a resistência campesina no Semiárido. Nas falas constatou-se que o movimento das Casas de Sementes é crescente, no entanto as questões de terra e água se apresentaram ainda como um grande desafio a ser enfrentado.
A Professora Aldiva da Universidade Vale do Acaraú (UVA), Alessandro da Cáritas Regional Ceará e Zé Ricardo do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), entre sementes, camponeses/as e frutos da terra contribuíram com o tema, Terra, água e Sementes da vida.
Aldiva destacou que a resistência dos povos do campo versos ao agronegócio que tem favorecido a descamponeização, enfatizou também as várias experiências de lutas na construção de um projeto popular que leva em conta a redemocratização e a Reforma Agrária. Zé Ricardo trouxe a questão da participação popular como instrumento de luta para pressionar os governos e o próprio estado.
“Sem pressão não há conquista de direitos e principalmente relacionado a Reforma Agrária”, destacou o mesmo. Alessandro enfatizou a reflexão da crise da água no Semiárido e a soberania alimentar.
Questionou se o problema é a seca ou as cercas, se está faltando água ou se ela está concentrada a serviço do agronegócio. Por fim, destacou a estocagem de água e alimentos como uma das estratégias que os camponeses/as estão vivenciando e dando certo para a descentralização dos mesmos e o empoderamento das comunidades camponesas.
Depois de um dia intenso de debates, chegou o momento de celebrar a colheita. Ao chegar da lua e das estrelas, a fogueira também foi acesa no terreiro dando sinal para iniciar a festa. A celebração teve início com a apresentação de elementos e ferramentas simbolizando o trabalho camponês em preparar a terra para o plantio; no momento do ofertório os alimentos colhidos em cada território para a partilha também foram apresentados em sinal de gratidão pelos agricultores e agricultoras. A bênção dos alimentos foi entoada por todos/as e em seguida a partilha se tornou milagre e sinal vivo da solidariedade entre todos/as.
No último dia, ao findar do encontro, deu-se através da ciranda da vida com a partilha e as histórias das sementes crioulas trazidas por cada camponês/a. As sementes falam de luta, perseverança, construção de caminhos e novos horizontes