Nada acontece por acaso. Já estava mesmo decidido a mudar de assunto a partir de hoje e voltar a falar da vida no Brasil real, depois de três meses de crise política no Brasil oficial, quando me chega um belíssimo relato do velho amigo José Roberto Barboza sobre os resultados do trabalho do Comitê Betinho no Nordeste que se dedica à abertura de cisternas para levar água aos sertanejos.

O Comitê Betinho foi formado por um grupo de funcionários voluntários do antigo Banespa (Banco do Estado de São Paulo, hoje Santander) durante a grande seca que assolou o nordeste em 1998.

Betinho, para quem não o conheceu ou não se lembra, era o nome de guerra do grande batalhador Herbert de Souza, outro velho amigo, também conhecido como o irmão do Henfil, que dedicou boa parte da sua vida a combater a fome no Brasil.

Zé Roberto, um brasileiro que vive preocupado em ajudar os outros, eu conheci no Sindicato dos Bancários de São Paulo durante a implantação do Projeto Travessia, um projeto social para amparar meninos de rua do centro da cidade, que ajudei a criar.

Todo ano ele me manda um relatório com informações sobre o andamento dos trabalhos do Comitê Betinho no Nordeste, que inspirou o governo, a Febraban, dezenas de associações, sindicatos e empresas, além de milhares de cidadãos, a também se engajarem neste grande projeto de abertura de cisternas, a forma mais rápida e barata de ajudar as populações sertanejas.

Treze anos depois de lançar a idéia, hoje à frente de uma imensa rede do bem, Zé Roberto e seu exército de bancários voluntários são um belo exemplo deste Brasil que segue em frente, apesar de todas as suas crises e dificuldades, mudando a vida de muita gente para melhor, em vez de ficar pelos cantos reclamando e lamentando o destino.

Divulgar os benefícios deste trabalho pode ajudar na captação de novos parceiros e recursos. Para quem anda desanimado da vida com o noticiário dos jornais, recomendo a leitura do texto que reproduzo abaixo para mostrar o que é feito no Brasil que não sai na mídia, mas tem muita coisa bonita para mostrar.

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Nordeste: região espetacular e de contradições

Ao pensar na região Nordeste do País, invariavelmente, nossa mente nos remete às praias paradisíacas e até primitivas, à saborosa culinária, aos shows folclóricos, enfim, para um lugar tranqüilo, com belezas naturais, muito sol e diversão.

Sim, tudo isso faz parte deste cenário. No entanto, há que se ponderar sobre o outro lado que aborda a vida do sertanejo nordestino castigado com secas dramáticas, sem água para consumo e cultivo, sem alimento, sem esperança.

E é neste panorama que destacamos a atuação sistemática e visionária do Comitê Betinho com investimentos em prol da construção de cisternas, da agricultura, da criação de animais, da saúde, educação, profissionalização e desenvolvimento local.

A atuação do Comitê Betinho no Nordeste começou em 1998 quando a região sofreu uma das secas mais dramáticas. Houve ampla mobilização da sociedade e dos governos.

A situação era trágica: alimentos e água foram enviados até em aviões das Forças Aéreas Brasileiras (FAB) e Correios.

O Comitê atuou com medidas consistentes que melhorassem realmente as condições de vida do sertanejo. Ao conhecer o trabalho da Ong Caatinga (www.caatinga.org.br), firmou parceria para a construção de cisternas (tanque para coletar águas das chuvas).

Satisfeito com o desempenho da entidade, o Comitê investiu também em agricultura e criação de animais.

Com o impacto positivo que as cisternas proporcionaram para as famílias o Comitê ampliou sua base de atuação no Nordeste e decidiu apoiar a Cáritas Brasileira (www.caritas.org.br), Diaconia (www.diaconia.org.br) e Visão Mundial (www.visaomundial.org.br).

Além disso, a experiência do Comitê na construção de cisternas possibilitou apresentar à Febraban (Federação Brasileira de Bancos) a tecnologia e os benefícios propiciados pelas mesmas. Com isso, a Federação atendeu a solicitação do Governo Federal (Programa Fome Zero) e investiu no Programa 1 Milhão de Cisternas.

Principais focos de atuação

Cisternas: foram construídas 197 cisternas com o apoio dos seguintes patrocinadores*

*Patrocinadores: Comitê Betinho (88); Afabesp - Associação dos Funcionários Aposentados do Banespa (3); Afubesp - Associação dos Funcionários do Banespa (18); Comitê Verbo divino Funcionários do Banco do Brasil SP (1); Fenae - Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal (5); Funcionários do Banco do Brasil de Maceió (1); Fundação Getúlio Vargas - alunos do Centro de Estudos do Terceiro Setor (2), KVA - Casa de Música Nordestina, em São Paulo (13); Santander (59); e Sindicatos de

Bancários: Bragança Paulista, Catanduva, Guarulhos, Jundiaí e São Paulo (7).

Agricultura: plantio de 3 mil mudas frutíferas, de 750 quilos de feijão, de 3 hectares de palma forrageira e a construção de 11 barragens subterrâneas, em Ouricuri/PE

Criação de Animais: doação para famílias de 54 caprinos e ovinos e 30 galinhas.

Atuação em Manari/PE _ Entre os 5.507 municípios do Brasil, Manari, em Pernambuco, obteve, em 2004, um triste recorde: o menor IDH-M (Índice de Desenvolvimento Humano Municipal) do País, segundo a classificação do PNUD (Programa das Nações Humanas para o Desenvolvimento).

A renda per capita média era de R$ 30,43 mensais. Essa situação dramática teve ampla divulgação na mídia. Sensibilizado, o Comitê Betinho investiu na região quase R$ 35 mil reais em ações em prol do desenvolvimento local, da saúde, em geração de renda e segurança alimentar, na construção de cisternas e em educação.

Conheça as principais obras:

Saúde

A Campanha de Prevenção à Cegueira e Reabilitação Visual realizada pela equipe médica da Fundação Altino Ventura atendeu, em 2004, na cidade de Buique 226 pessoas e 110 delas receberam óculos gratuitamente. Foram investidos R$ 4.730,00 nas despesas com óculos, hotel e alimentação para a equipe de profissionais.

Já em 2005, a Fundação promoveu a Campanha Veja Bem e realizou 360 atendimentos. Nesta ação 133 pessoas receberam óculos. O investimento foi bem maior em relação ao ano anterior e somou R$ 6.849,00.

Cisterna

A Pastoral da Criança/Casa Paroquial, no centro de Manari, recebeu a doação de R$ 1.200,00 para a construção de uma cisterna.

Educação

O Comitê também doou livros e um aparelho de DVD à Biblioteca da Pastoral da Criança/Casa Paroquial num investimento de R$ 947,92.

Geração de Renda e Segurança Alimentar

O Serta (Serviço de Tecnologia Alternativa), em Ibimirim/PE, em 2007, recebeu R$ 5.000,00 para o Projeto de Estruturação Apícola. Esse investimento permitiu que quinze jovens apicultores de adquirissem 52 colméias e fossem treinados para extrair mel profissionalmente (geração de renda).

Desenvolvimento Local

A Oásis (Associação Comunitária do Sítio do Alto do Morcego), em Manari/PE, obteve em 2009, R$ 10.000,00 para a construção da sede social da entidade que promove atividades educacionais, culturais, sociais, recreativas e profissionalizantes.

Total investido em Manari/PE: R$ 34.726,92

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Em tempo:

O que mais me chamou a atenção na singela prestação de contas publicada acima foi como é possível, no Brasil real, fazer um monte de coisas para ajudar muita gente gastando poucos recursos. Que diferença com o Brasil dos gabinetes...

Eu sei que o Comitê Betinho no Nordeste é apenas um grão de areia num oceano de ongs e entidades reunidas na Articulação do Semi-Árido que está fazendo a diferença para milhares de familias.

Se o caro leitor tiver uma boa história de trabalho voluntário para contar, no Nordeste ou em qualquer outra região do país, por favor, mande seu comentário. Nós também vivemos de bons exemplos.

Mais informações:

www.comitebetinho.org.br