Depois de ser replicada no Haiti e servir de modelo para oito países da África, como Angola, Gana e Moçambique, a experiência da Articulação do Semi-Árido Brasileiro (ASA) – em captar e armazenar água de chuva em cisternas ao lado da casa das famílias do semiárido – servirá de inspiração para o Paraguai.

Ontem (05/08), dois representantes do governo paraguaio participaram de uma reunião de três horas com técnicos da ASA para conhecer a metodologia, as dificuldades e as conquistas alcançadas nos 10 anos de trabalho da Articulação. Os desafios da relação entre governo e movimentos sociais também suscitaram interesse dos visitantes, que foram convidados a conhecer a experiência da ASA pelos ministérios das Relações Exteriores e do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, do Brasil.

A visita se estende com a ida dos representantes do Paraguai e do Governo Federal às comunidades rurais de Pedra Branca e Queimadas, no município de Cumaru, no agreste de Pernambuco, onde eles se reunirão com os integrantes do conselho municipal da ASA e conhecerão as propriedades de famílias beneficiadas com os programas da Articulação.

“É encantador o programa [Um Milhão de Cisternas]. Nós trabalhamos com sistemas de abastecimento de maior porte. Precisamos criar soluções individuais porque na região do Chaco, nossa área semiárida, as casas são difusas e a população é pequena”, comentou Roberto Acosta, que trabalha no Serviço Nacional de Saneamento Ambiental, órgão técnico ligado ao Ministério de Saúde Pública e Bem Estar Social do Paraguai.

Segundo Jorge Vazquez, do mesmo Ministério, a visita à ASA corresponde à primeira etapa do projeto piloto que o governo paraguaio está realizando em parceria com o governo brasileiro.

“Este projeto piloto prevê a construção de 50 cisternas para transferência da tecnologia”, explicou. “Esta experiência é muito relevante para meu país devido à necessidade apresentada pelos habitantes do Chaco”, acrescenta Vazquez. No Chaco vivem cerca de 120 mil pessoas em sua maioria índios.

Em vários momentos da conversa, os paraguaios ressaltaram a principal diferença entre os dois países no que diz respeito ao impulso para a implantação da tecnologia das cisternas. No Brasil, elas são uma conquista dos movimentos sociais e da população do Semiárido, que conseguiram tornar a ação uma política pública, com dotação no orçamento da União e apoio do governo federal. Já no Paraguai, segundo os visitantes, a iniciativa partiu do governo. E isso, de acordo com Acosta, vai requerer um esforço para conquistar a parceria com a sociedade civil e garantir a sustentabilidade da ação.

Além do Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC) – cuja água é usada para consumo humano - a ASA desenvolve o Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2) – voltado para captação de água para produção de alimentos. Ambos os programas recebem recursos do governo federal, além de organizações da cooperação internacional e empresas nacionais.

Fonte: ASA Brasil