Entrevistado(a): Valquíria Lima
Organização integrante do Comitê Coordenador da RTS, a Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA) acaba de completar dez anos. Em entrevista, a coordenadora da ASA,Valquíria Lima, fala sobre as novas perspectivas da convivência com o Semiárido, bem como as principais conquistas de um dos maiores fóruns de organizações da sociedade civil do Brasil. Atualmente, mais de mil entidades dos mais diversos segmentos, como igrejas católicas e evangélicas, ONGs de desenvolvimento e ambientalistas, associações de trabalhadores rurais e urbanos, associações comunitárias, sindicatos e federações de trabalhadores rurais fazem parte da ASA.
A ASA está completando dez anos. Qual o saldo até aqui?
Valquíria Lima - Uma das grandes contribuições que a Articulação no Semiárido Brasileiro tem dado é pautar a convivência com o Semiárido na pauta política brasileira. Essa capacidade tem influenciado as políticas públicas. Hoje já não se fala mais em combate à seca, inclusive dentro dos governos em todas as suas instâncias. Isso é mérito desta articulação entre os agricultores e agricultoras e as nossas organizações. Todo trabalho que está sendo feito pela ASA em termos de democratização da água no Semiárido também é extremamente significativo. O que queremos agora é que todas as famílias do Semiárido tenham capacidade de armazenar água de chuva para o consumo humano e para a produção de alimentos.
Qual o papel do conhecimento dos próprios agricultores e agricultoras do Semiárido para atingir esse objetivo?
Valquíria - É fundamental. É baseado nessa experimentação e nesse saber local, que vem da adaptação das comunidades ao próprio clima do Semiárido, que a ASA baseia todas as suas ações. É lógico que esse saber local passa por um processo de sistematização metodólogica e por possibilidades de melhorar essas tecnologias experimentadas localmente por meio de um novo diálogo com as organizações da sociedade civil e as universidades. Veja que isso já resultou em uma política pública de acesso a água para milhares de famílias, tanto para o consumo humano como para a produção de alimentos. Nós invertemos a lógica. A solução não sai mais pronta de dentro das universidades, dos gabinetes dos ministérios ou mesmo das organizações. São os agricultores e agricultoras os grandes idealizadores de tudo isso.
É a primeira vez que se pretende resolver o desenvolvimento do Semi-Árido a partir de experiências populares?
Valquíria - Pelo menos numa escala territorial desta natureza, certamente sim. Já chegamos a mais de 340 mil cisternas de captação de água de chuva construídas e mais de dez mil implementações de tecnologias de armazenamento de água para a produção de alimentos. São muitas pessoas mobilizadas e debatendo a convivência com o Semiárido a partir do local, dentro de u