BRASÍLIA – A mais abrangente pesquisa já feita pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) revela que boa parte dos assentados da reforma agrária sofre com falta de estradas, energia e acesso à crédito. Os pequenos agricultores penam ainda com dificuldades de acesso a escolas, a computadores, à rede pública de saúde e à área com saneamento básico, entre outros itens básicos. Pelo levantamento divulgado semana passada pelo presidente do Incra, Rolf Hackbart, 56,17% dos assentados não têm energia elétrica ou a têm de forma irregular.

A energia elétrica tem papel transformador não só na produção, mas também na qualidade de vida das pessoas em qualquer sociedade. “Você não imagina a felicidade das pessoas só em ter energia elétrica em casa e poder ter, por exemplo, uma geladeira. Até um fogão a gás já faz uma diferença grande”, afirma César Aldrighi, coordenador geral da pesquisa.

O levantamento mostra que 57,89% consideram as estradas para se chegar aos assentamentos ou para escoar a produção ruins ou péssimas. Pesquisadores encontraram casos em que assentados no Pará são obrigados a caminhar por quatro ou cinco dias só para vender pequenas quantidades de bois. Os assentamentos ficam distantes até mesmo das estradas secundárias, por onde circulam caminhões de compradores de gado. A pesquisa informa ainda que 47,78% não recebem financiamentos do Programa Nacional de Agricultura Familiar (Pronaf).

O acesso ao crédito com juros baixos é uma das principais reivindicações dos agricultores. Para muitos deles, sem ajuda financeira a produção agrícola se torna inviável. O estudo mostra ainda que 42,88% dos assentados chegaram, no máximo, à 5ª série e 16,42% são analfabetos. A educação de crianças e adultos nos assentamentos é um dos maiores dilemas da reforma agrária. A melhoria do sistema educacional, uma alternativa de ascensão social, é um pedido permanente dos assentados.

Mas, pelo que a pesquisa indica, as respostas oferecidas pelo governo até agora não têm sido suficientes. Na saúde, a situação não é muito melhor. Pelas informações recolhidas pelos técnicos, 55,74% dos assentados consideram ruim ou péssimo o acesso a postos de saúde ou hospitais públicos. Apesar dos problemas, 60% dos entrevistados disseram que em termos de renda, alimentação, educação e moradia estão em situação “melhor ou muito melhor” que na fase anterior à vida nos assentamentos.

Para fazer o levantamento, o Incra entrevistou 16.153 famílias de 1.164 assentamentos criados entre 1984 e 2008. O País tem 913 mil famílias em 8.710 assentamentos. Os questionários foram aplicados entre janeiro e outubro por 600 técnicos.

O estudo mostrou ainda profundas diferenças nas condições de renda e na qualidade de vida entre assentamentos. Nesta primeira parte, o Incra divulgou dados comparativos entre Santa Catarina e no Ceará. Em fevereiro ou março de 2011, o instituto deverá divulgar a parte final da pesquisa, com a análise completa dos dados coletados.

No Ceará, 40% da renda dos assentados tem origem em benefícios sociais pagos pelo governo como bolsa família, aposentadorias ou pensões. Em Santa Catarina, Estado em que a agricultura é mais desenvolvida e os agricultores tem mais facilidade de crédito e escoamento da produção, 76% da renda é resultado do trabalho dos próprios agricultores. “Os assentamentos refletem a realidade regional”, afirma Hackbart.