As obras da transposição das águas do Rio São Francisco estão saindo do papel. O governo federal pagou R$ 1,4 bilhão em obras dos R$ 4,5 bilhões previstos, o que significa 27% do total. O projeto prevê a construção de dois grandes canais – os Eixos Norte e Leste –, que vão levar a água do Velho Chico a vários municípios de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará. Os operários do Eixo Leste estão trabalhando em dois turnos para tentar finalizá-lo até dezembro deste ano. Com isso, o presidente Lula faria a inauguração do Eixo Leste, o menor canal da maior obra hídrica feita no Nordeste, durante seu governo. Para o leitor ter uma ideia, o primeiro governante que pensou em usar a água do Velho Chico para minimizar os problemas do Semi-Árido nordestino foi Dom Pedro II.
As obras da transposição começaram em 2007, um ano depois do início da construção da Ferrovia Transnordestina, que vai ligar o Sul do Piauí aos portos de Pecém, no Ceara, e de Suape. Ambas tiveram as suas obras paralisadas várias vezes. Enquanto a transposição gastou 27% do orçamento previsto para as obras, a Ferrovia Transnordestina liberou recursos que não chegam a 7% do seu investimento total. As duas demandam investimentos bilionários e trarão impacto no desenvolvimento da região. A Transnordestina tem um orçamento de R$ 5,4 bilhões, enquanto os custos com a transposição podem chegar a quase R$ 6 bilhões, incluindo mais de R$ 1 bilhão que será gasto em compensações ambientais e iniciativas de revitalização do rio.
As obras do Eixo Leste (ver quadro) têm índice de realização de 65%, enquanto no Norte o percentual é de 42% e a sua conclusão está prevista para dezembro de 2012. Inicialmente, o governo federal pretendia concluir toda a transposição até 2010. “A nossa intenção é concluir as obras físicas do Eixo Leste até dezembro deste ano.
Depois disso, devem ser realizados testes por um período de quatro meses”, explica o diretor do projeto São Francisco, Frederico Fernandes de Oliveira. A entrada em operação do Eixo Leste só deve ocorrer em meados do próximo ano.
Atualmente, são 9.030 homens trabalhando nas obras da transposição, dos quais mais de 6 mil estão nos lotes que passam por Pernambuco. O operário José Ferreira diz que as obras da transposição mudaram a rotina de Cabrobó – a cidade onde mora – e foram “a melhor coisa que Deus fez”. Ele trabalha num trecho entre cidade de Salgueiro e Cabrobó, anotando as máquinas que estão em funcionamento. “O dinheiro é mais fácil e a gente ganha melhor”, diz, acrescentando que recebe pouco mais que um salário mínimo por mês. Antes disso, ele carregava cebola na Ceasa de Cabrobó.
Embora os trechos próximos a Cabrobó não tenham sido concluídos, uma parte está parada ou com a execução muito lenta. Em ambos os lotes, o canal de aproximação – aquele que capta a água no rio – e os primeiros quilômetros do canal são feitos pelo Exército. Nos dois eixos, o índice de realização dessa primeira etapa é de 60%, mas a Barragem de Areias (no Eixo Leste) está com 95% de realização, enquanto a Barragem de Tucutu, a primeira do Eixo Norte, deveria ter sido concluída no ano passado, o que não ocorreu. “A Barragem de Tucutu deve ficar pronta este ano”, comentou Frederico.
O pico das obras já passou em Cabrobó. Em junho, as construtoras demitiram cerca de 600 pessoas que trabalhavam nos lotes do município. “Uma parte dessas pessoas foi aproveitada no lote 7”, explicou Frederico. O operário Cícero Carinhanha não teve essa sorte. Ele trabalhou nas obras de Cabrobó de setembro de 2009 a junho deste ano. “Atualmente, estou no seguro-desemprego e continuo plantando cebolas”, contou.
Agora, a transposição e a Transnordestina estão trazendo grandes impactos na economia de Salgueiro e Sertânia. “De manhã cedo, Sertânia parece São Paulo. São 70 ônibus circulando para pegar as pessoas que trabalham nas obras dos dois projetos. Só não está trabalhando quem não quer”, comentou o prefeito daquela cidade, Nemias Gonçalves de Lima (PSB). Ele afirmou que o seu município foi muito beneficiado porque são grandes os trechos da transposição e da ferrovia que passam por Sertânia. A ocupação hoteleira nas cidades aumentou, assim como a arrecadação do Imposto sobre Serviço (ISS). Em Sertânia, a arrecadação do tributo era de cerca de R$ 100 mil por ano e deve chegar a R$ 1 milhão este ano, segundo o prefeito.