"Para celebrar a vitória da comunidade de Martinha e de tantas outras, 600 trabalhadores dos nove estados do Nordeste e de Minas Gerais se reuniram em Juazeiro (BA), entre 22 e 26 de março, no VII Encontro Nacional da Articulação no Semi-Árido Brasileiro (EnconASA). O evento marcou os dez anos da ASA, rede que conta com mais de mil entidades que apostam na chamada convivência com a região".
Encontro Nacional da Articulação no Semi-Árido Brasileiro (ASA) comemora os dez anos da rede e defende um novo desenvolvimento para a região
Delzuita Ferreira Alves lembra bem a forte seca que, há duas décadas, atingiu a comunidade de Martinha, no município de Remanso, na Bahia. Mais do que a estiagem, a senhora de 64 anos recorda da própria tristeza ao ver sua filha pedindo um pouco d'água que, ali, não havia. “Na minha casa, não tinha água para cozinhar nem para beber. Nunca vou esquecer da angústia que passei”.
Esses tempos difíceis, porém, tornaram-se apenas lembranças. A falta d'água não assola mais sua comunidade que, com ajuda da Articulação no Semi-Árido (ASA), aprendeu a construir cisternas para captar a água da chuva.
“Será que não chovia?", questiona Dona Delzuita, que já dá a resposta do que mudou no semi-árido brasileiro nos últimos anos. "Chovia sim, mas não tinha a organização que temos hoje”.
Para celebrar a vitória da comunidade de Martinha e de tantas outras, 600 trabalhadores dos nove estados do Nordeste e de Minas Gerais se reuniram em Juazeiro (BA), entre 22 e 26 de março, no VII Encontro Nacional da Articulação no Semi-Árido Brasileiro (EnconASA). O evento marcou os dez anos da ASA, rede que conta com mais de mil entidades que apostam na chamada convivência com a região.
Outra lógica
O coordenador institucional da ONG Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (IRPAA), Ademilson Santos, o Tiziu, explica que a proposta fundamental da ASA se baseia no rompimento com a lógica de combate à seca. “Essa vê a região como uma região de miséria, que só tem dificuldades, e, para tentar minimizar algumas questões, são traçadas políticas assistencialistas, compensatórias, que não resolvem o problema”, afirma.
Tiziu ressalta o custo gerado por essas políticas, como a distribuição de água. Segundo ele, a média de gastos com cada carro-pipa fica em torno de R$ 6 mil por mês. Em localidades mais distantes, pode chegar a R$ 10 mil. Para Tiziu, a continuidade desse tipo de prática encontra respaldo nos grupos que não querem perder seu domínio na região. “A ideia de tratar o semi-árido dessa forma não é por acaso. Politicamente, é intencional, no sentido de manter aquela relação de cooptação, de clientelismo, para que as pessoas tenham que depender diretamente dos políticos, dos cabos eleitorais e dos coronéis”, avalia.
Convivência
Em contraposição à