Os 20 participantes do EnconASA que visitaram a comunidade Areia Grande, no município de Casa Nova, na Bahia, impressionaram-se com a resistência das 366 famílias unidas na luta pelo fundo de pasto. Participaram do encontro as comunidades de Riacho Grande, Salinas, Jurema e Melancia, além de algumas comunidades vizinhas.

Após a oração inicial e breve apresentação dos visitantes, Seu Joaquim, de 75 anos, e lideranças da comunidade contaram a história dessa terra onde as famílias criam animais de forma extensiva na Caatinga há 150 anos. A terra de 21 mil hectares foi comprada no final da década de 1970 pela empresa Camaragibe, através de falsos títulos de propriedade.

A empresa faliu e alguns empresários da região adquiriram os títulos da dívida junto ao Banco do Brasil. Em 2008, os moradores foram vítimas de violência por parte dos empresários que enviaram capangas para expulsá-los da área onde eles têm 80 mil cabeças de animais e 9mil caixas de abelha. O Estado reconheceu, no final de 2008, a natureza pública das terras e a legitimidade da ocupação tradicional, mas, as ameaças continuam e a briga com um juiz da Comarca de Casa Nova, que estaria do lado dos empresários, também.

Seu Antonino, da comunidade Riacho Grande, fez 85 anos ontem. Ele disse com lágrimas nos olhos que quis ficar na terra porque é o lugar onde nasceu e se criou, planta e cria gado, ovelha, bode e cavalo. "Eu moro afastado, mas, todo dia venho aqui com meu cavalinho vigiar as coisas, pois, se eu sair daqui vou pra onde?", questiona.

Os visitantes fizeram perguntas sobre o dia a dia dos moradores e a comercialização dos animais e do mel que é feita na feira livre. Elogiaram a resistência e declararam solidariedade com a luta de Areia Grande. Océlia Santiago, da comunidade Uruá, município de Barreiras, Ceará, disse que foi a primeira vez que teve contato com uma realidade assim. "Já tiraram deles a água, tiraram parte da carnaúba. O que vão tirar agora? pergunta sensibilizada. Depois da conversa e do almoço preparado pelos homens da comunidade, com a ajuda das mulheres, os visitantes foram ao local onde os capangas destruíram as cercas e desmataram a Caatinga.