Cerca de 4.000 pessoas caminharam, ontem (23), pelas ruas da cidade de Juazeiro, na Bahia, em celebração aos dez anos da Articulação no Semi-Árido (ASA). Com faixas e apitos, os participantes aproveitaram o momento também para chamar atenção para as demandas dos povos que vivem no semiárido brasileiro.
Para Ademilson da Rocha, o Tiziu, membro da organização do VII Encontro Nacional da ASA (EnconASA) e do Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (Irpaa), a dimensão da caminhada surpreendeu até mesmo os organizadores do evento. "A gente esperava cerca de 1.500 participantes. A polícia civil disse que tinha cerca de 4.000", alegra-se.
Delegados participantes do Encontro e pessoas de comunidades próximas a Juazeiro fizeram parte da mobilização. De acordo com Tiziu, até mesmo os moradores da cidade reagiram de forma diferente da esperada. Segundo ele, geralmente, quando acontecem mobilizações que interditam as ruas, as pessoas não gostam muito. Reação que não foi a que aconteceu ontem. "Vimos pessoas sorrindo, aplaudindo, apesar das ruas interditadas", comenta.
Para ele, a caminhada também serviu para mostrar que não é somente a água que resolve todos os problemas do semiárido. "Precisa ser um conjunto de iniciativas", afirma, destacando outras questões também abordadas pela ASA, como educação contextualizada, garantia de direitos, economia popular solidária, biodiversidade e soberania alimentar.
Tiziu lembra ainda os "entraves" que existem no semiárido, recordados pelos participantes da caminhada, como os grandes projetos de irrigação, as mineradoras, as carvoarias e as grilagens de terras.
A questão da monocultura, por exemplo, foi lembrada pela delegação do Piauí que participa do EnconASA. De acordo com Estevam da Silva Neto, delegado pelo Piauí, a principal questão levantada pela delegação na caminhada foi a prática da monocultura.
Segundo ele, o estado passa, atualmente, pelo problema da monocultura, no qual grandes empresas "destroem a vegetação local para plantar eucalipto e soja". De acordo com informações de Estevam, o eucalipto é destinado à produção de papel e a soja, para a exportação. "Tiram a nossa riqueza e vão embora", afirma, referindo-se ao lucro que é gerado com o desgaste da natureza e que não beneficia a população do estado.