Três tecnologias sociais de captação de água da chuva para produção de alimentos foram inauguradas na manhã de ontem na comunidade Serra Vermelha, município de Areia Branca. O projeto desenvolvido pela Articulação Semiárido Brasileiro (ASA) é patrocinado pela Petrobras e ampliará a oferta de água para 20 mil famílias do semiárido. A solenidade contou com a participação do diretor de Exploração e Produção da Petrobras, José Formigli.
Apesar do atraso de mais de duas horas, devido ao protesto realizado por petroleiros na BR-110 (ver matéria nesta edição), na manhã de ontem foram entregues uma cisterna-calçadão para a família de seu José Gomes, uma cisterna-enxurrada na propriedade de Maria de Lourdes Nunes e seu Antônio Pinheiro da Costa e um barreiro-trincheira que vai acumular água para a família de Francisca Santiago e Antônio Ferreira.
Cerca de 1.200 agricultores e agricultoras dos estados do Rio Grande do Norte, Paraíba e Ceará compareceram ao evento, que teve também uma Feira de Saberes e Sabores com produtos da agricultura familiar.
Estas famílias fazem parte de um total de 20 mil que serão atendidas com as mesmas tecnologias e mais a barragem subterrânea, que acumula água no subsolo e mantém por mais tempo o solo úmido e adequado para plantações. Essa ação trará água para produção de alimentos para cerca de 100 mil pessoas, em 210 municípios do Semiárido brasileiro – de Minas ao Piauí, passando por todos os Estados nordestinos. A iniciativa faz parte do contrato de patrocínio firmado entre a Articulação e a Petrobras, que irá investir, em um ano, mais de R$ 199 milhões.
De origem muito simples, o casal de agricultores Antônio Ferreira e Francisca Santiago nunca imaginaram receber uma tecnologia de convivência com o semiárido em suas terras e que traria tanto benefício e qualidade de vida para a própria família e para os animais como é o barreiro-trincheira, sendo mais uma implementação do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2). O barreiro é um tanque longo, estreito e fundo escavado no solo, com capacidade para armazenar, no mínimo, 500 mil litros de água, tem a vantagem de ser estreito, o que diminui a ação de ventos e do sol sobre a água, o que faz com que a evaporação seja menor e a água permaneça armazenada por mais tempo. Seu Francisco Ferreira comemorou a novidade e se diz sortudo por receber a tecnologia.
Além da construção dos equipamentos físicos, que favorecem a captação e armazenamento de água, essa iniciativa prevê também ações que fortalecem o estoque de sementes crioulas, uma cultura das famílias agricultoras, e a multiplicação e plantio de mudas de plantas nativas da região. Também estão previstos cursos de gestão de água para produção de alimentos para famílias e de pedreiros e pedreiras para agricultores e agricultoras que aprendem a construir cisternas.
O diretor José Famigli destacou que a Petrobras investirá R$ 200 milhões no período de 12 meses, no Programa. Cerca de 60% dos municípios beneficiados estão na área de influência do Sistema Petrobras. A região é considerada estratégica para a Companhia, que tem ampliado continuamente sua presença no Nordeste e no semiárido.
Para Naidison Baptista, realizar o evento com a participação dos agricultores/as é reconhecer o protagonismo deles e delas na implementação dessas ações. “A metodologia da ASA olha os agricultores e agricultoras como sujeitos do processo. As organizações da Articulação não estão beneficiando ninguém. Estamos criando condições para que as pessoas tenham acesso aos seus direitos. Fazer o lançamento na comunidade, com a presença dos agricultores e agricultoras, na casa das famílias é muito importante. E poderemos ver na prática a importância e o significado dessas tecnologias”, diz Naidison.
Para a execução do projeto serão capacitados, no período de um ano, 1.300 pedreiros em técnicas de construção destinadas à captação de água de chuva. Também está prevista a construção de locais para armazenamento de sementes e viveiros de mudas. Essas ações também fazem parte de uma estratégia mais ampla cujo objetivo é apoiar a articulação, o fortalecimento e a emancipação da sociedade civil por meio da capacitação para o manejo sustentável da terra e das águas.
CRITÉRIOS
Na escolha das famílias que receberão os sistemas, será dada prioridade àquelas que têm renda per capita familiar de até meio salário mínimo, localizadas na zona rural, com crianças de até seis anos ou com crianças e adolescentes matriculados e freqüentando a escola. Também serão consideradas famílias integradas por adultos com idade igual ou superior a 65 anos, deficientes físicos ou mentais e que tenham mulheres como chefes de família. Entre as condições técnicas, serão analisados aspectos relacionados à área disponível, características geológicas e solo.
P1+2
Hoje, já existem pouco mais de 18 mil tecnologias que captam e armazenam água da chuva para a produção de alimentos e criação de animais, construídas através do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2), da ASA, em todo o Semiárido brasileiro.
Com esta malha hídrica descentralizada, cerca de 94 mil pessoas têm em suas propriedades condições mais adequadas de viver e produzir apesar das estiagens cíclicas naturais da região.
Além do patrocínio da Petrobras, o P1+2 conta com a parceria do governo federal, através do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS).