Severino Pedro de Lima, agricultor de Bom Jardim - PE, que teve sua cisterna construída em 2003, no primeiro ano de execução do Programa Cisternas, foi uma das 3.000 pessoas que se encontraram para comemorar os 20 anos da política pública que democratizou o acesso à água no Semiárido brasileiro.

“Antes das cisternas, nós buscávamos água em uma fazenda no verão e éramos humilhados. Espero que a gente consiga construir uma cisterna para as pessoas que não tem”, contou Severino.

O ato público, organizado pela Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA), comemorou a marca de 1,2 milhão cisternas construídas em duas décadas e conclamou as autoridades públicas presentes a colaborarem para a universalização do acesso à água para consumo até 2026.

“Nós conquistamos a maior democratização da água possível até hoje no Semiárido. A região tinha muita água, mas era concentrada na mão dos grandes, na mão dos latifundiários, na mão dos fazendeiros, e isso gerava sede pras pessoas, fome e miséria. O Programa Cisternas veio democratizar o acesso à água. A água agora chega na porta de cada pessoa. Mas isso não está ainda completo”, lembrou Naidison Baptista, representante da ASA no Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional (CONSEA).

Dona Maria de Lourdes dos Santos, veio de Surubim - PE em um dos mais de 31 ônibus e 4 vans que chegaram ao Espaço Ciência, em Olinda - PE, mesmo lugar onde em 1999, no Fórum Paralelo da Sociedade Civil à COP3, nascia o Programa Cisternas e a própria ASA. Cirurgiada há 15 dias, Dona Maria não quis perder a oportunidade de celebrar o Programa que liberou as mulheres e meninas da tarefa árdua de buscar água.

“Depois que foram criadas as cisternas, melhorou muito para nós mulheres. Nós andávamos de balde d 'água na cabeça, de jumento de carga. Hoje temos água para beber, plantar um coentro e criar nossos animais. As mulheres têm mais tempo de sentar com suas famílias. Estamos lutando para que as famílias que não foram contempladas, estejam”.

Rumo à universalização do acesso à água

Embora as cisternas, junto a outras tecnologias de convivência com os semiáridos, tenham revolucionado o Brasil nestes últimos anos, a demanda ainda é latente. Mais de 400 mil famílias ainda não possuem o reservatório de água. 

Durante o ato, que contou com a presença do ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Wellington Dias, Dona Maria Augustinha, agricultora de Ouricuri, no Sertão do Araripe - PE, anunciou o novo desafio da ASA e do Brasil: “estamos aqui para dizer ao ministro, ao presidente Lula e deputados, que é necessário que haja uma universalização da água”. 

“O grande desafio na festa é olhar para frente. O presidente Lula e o senhor [ministro] têm a oportunidade histórica de entrar para a história desse país como aqueles que universalizaram a água de consumo no semiárido brasileiro”, complementou Cícero Félix, coordenador-executivo da ASA, ao lado de Dona Maria Augustinha e em meio ao mar de bandeiras brancas com o símbolo da Articulação que revolucionou o Semiárido Brasileiro.

O Semiárido quer mais

Muitas das agricultoras e agricultores presentes já possuem uma cisterna de 16 mil litros para consumo familiar, outra de 52 mil litros para produção. Outros tantos já conquistaram outras tecnologias como o biodigestor, que produz gás de cozinha a partir do esterco animal e sistemas de tratamento de águas cinzas e fecais. Todos eles estavam no ato porque querem mais, querem a universalização do direito à água, educação contextualizada, a volta da Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER), saneamento rural e muitas outras oportunidades para viverem com dignidade no campo.

“O básico mesmo é a água. Aí depois da água, falta um banheiro e mais coisas, né?”, resumiu Paulo Martins da Silva, agricultor de Jataúba - PE, que há 10 anos conquistou sua cisterna. “Daqui a 20 anos vamos comemorar que todos os povos do Semiárido tenham água para beber, água para a produção de alimentos. Vamos celebrar a produção de alimentos diversificados e a nossa biodiversidade, a democratização da terra”, projetou Glória Batista, uma das coordenadoras executivas da ASA.

 

Autoridades públicas presentes

Além do ministro do MDS, outras autoridades públicas marcaram presença no ato de comemoração dos 20 anos do Programa Cisterna. Estiveram presentes: Raquel Lyra, governadora de Pernambuco, Cicera Nunes da Cruz (Fetape/Contag); Anderson Amaro (MPA Via Campesina); Naidson Quintella (CONSEA); Silvio Porto (CONAB); Caio Ramos (BNDES); Kleytton Guimarães (Fundação Banco do Brasil); Patrícia Vasconcelos (Secretaria da Agricultura Familiar e Agroecologia /MDA); Lílian dos Santos Rahal (Secretária Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional); e os deputados federais por Pernambuco Doriel Barros e Túlia Gadelha, e a deputada estadual, Rosa Amorim.