A instalação de uma cisterna é motivo de alegria para as famílias nordestinas. Em meio às recorrentes secas, poder contar com água a poucos metros de casa é privilégio de uma minoria, em um universo de mais de 2 milhões de habitantes no semiárido. Dados do Ministério da Integração Nacional de maio apontam a instalação de 4.432 cisternas no Nordeste, por meio do programa Água para Todos, que pretende universalizar o acesso até 2016. Porém, na zona rural de Paulistana (PI) a iniciativa tem causado dor de cabeça para alguns beneficiados. O sol forte e quente da região deforma as cisternas fornecidas pelo ministério, feitas com plástico polietileno, pouco resistente a altas temperaturas. Moradores contam que, passado um mês da instalação, mais de 22 cisternas já estavam com a parte de cima afundada.
De acordo com o ministério, as cisternas que apresentarem defeito de fabricação serão substituídas sem custo, conforme prevê o contrato. Porém, o defeito dos reservatórios não é de fabricação, mas de adaptação, segundo a pasta. O governo informa ainda que os reservatórios danificados em Paulistana já foram identificados e serão trocados.
Estrago
Há, porém, quem não queira a cisterna do Ministério da Integração. O agricultor Francisco Bertoldo, 61 anos, negou um novo reservatório com o mesmo material. "A gente nunca recebe nada do governo, aí quando recebe é porcaria? Eu não quero. Fiquei revoltado", esbraveja. "Logo que vi o material, percebi que a cisterna não prestava para nada. Coloquei de manhã, de tarde já estava estragada. Além do mais, esquenta a água. Você vai tomar banho de manhã e já tá pegando fogo", relata Francisco, que mandou fazer outra cisterna, por conta própria. Pagou R$ 1.690 reais.
Segundo Josivaldo Rodrigues de Macedo, coordenador-geral do Centro de Estudos Ligados a Técnicas Alternativas (Celta), as cisternas ideais são as de placa, que custam em torno de R$ 2 mil — cerca de metade do preço das de polietileno. "Nossa principal reclamação é que essas cisternas do ministério não se adequam à realidade das famílias", diz Josivaldo, que está a frente de um projeto —com a organização Articulação no Semiárido (ASA )— de instalação de cisternas de placa. (PF)