A Conferência Brasileira de Mudança do Clima, que terminou na última sexta-feira (08/11), é um evento anual e reúne organizações não governamentais, movimentos sociais, governos, comunidade científica e o setor privado e público brasileiro para três dias de diálogo e formulação de propostas. Ela surgiu como uma oportunidade de promover o diálogo sobre como retomar a trilha da responsabilidade climática, da participação da sociedade, da consolidação de pactos internos, de fortalecimento e de ampliação da agenda climática.
 
Durante a manhã da sexta-feira, a roda de debates “Semiárido e Amazônia: Impactos do Clima para o acesso à Água e Práticas Comunitárias” e o painel "Agricultura sustentável, uma transição justa com trabalho decente para um modelo de desenvolvimento sob a ótica dos movimentos do campo" foram espaços com participação da Articulação Semiárido Brasileiro. Outros momentos da Conferência tiveram espaços com organizações que também fazem parte da ASA.
 
A roda de debates que trouxe como tema as mudanças do clima e seus impactos na Amazônia e no Semiárido foi promovido pela Fundação Avina e composta por Marcírio Lemos, da coordenação executiva da ASA Brasil pelo estado do Rio Grande do Norte, Caetano Scannavino, do Projeto Saúde e Alegria e Igor Vieira, do Engaja Mundo. O Auditório do Secti, no Bairro do Recife (centro histórico da capital pernambucana), recebeu o evento.
 
A ideia foi de aproximar e conversar sobre as experiências territoriais e/ou regionais parceiras da Avina, como também sobre as incidências políticas que estão sendo desenvolvida diante do contexto do corte de políticas públicas de captação de água de chuva e das políticas ambientais. Segundo Marcírio, “o debate ocorreu em torno dos avanços efetivos conquistados com a implantação destas políticas e a contribuição para a autonomia das famílias e da segurança hídrica.” Ainda de acordo com Marcírio, a possibilidade da construção de uma agenda conjunta entre os territórios com vista à próxima Conferência foi levantada.
 
Já o painel sobre agricultura sustentável, que começou em seguida, teve participação de Alexandre Pires, da coordenação executiva da ASA Brasil pelo estado de Pernambuco; Andréia Neiva, da coordenação nacional do Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB); Aristides Santos, presidente da Contag; Cícera Nunes, presidente da Fetape; Gilmar Mauro, da coordenação nacional do MST; com a mediação de Chico Oliveira, do DIEESE. O painel foi realizado no Arcádia do Paço Alfândega, também no Bairro do Recife.
 
Alexandre Pires, da ASA, trouxe em sua apresentação uma reflexão sobre o atual contexto global de crise do modelo capitalista e do agronegócio, que expropria os povos dos seus territórios e consome os bens comuns de forma exploratória, gerando pobreza, fome e violência. Ele destacou ainda que, na contramão desse contexto, a ASA defende a convivência com o Semiárido e a agroecologia, que  são mudanças de paradigma. "Com essas perspectivas nós podemos dar uma contribuição ao contexto, mas é necessário o envolvimento do Estado", disse.
 
Andréia Neiva, do MAB, destacou a necessidade urgente da discussão do modelo energético, da democratização da terra e da agroecologia, e do acesso e controle popular das sobre as águas. "Esses são debates que precisam estar articulados, porque os problemas só tendem a aumentar, e  discutir agricultura sustentável sem olhar para essas vertentes é fazer isso de forma incompleta", afirmou.
 
Gilmar Mauro, do MST, fez um chamado a todas as pessoas presentes para a construção do Fórum Popular da Natureza, que será realizado entre os dias 19 e 22 de março de 2020, na cidade de São Paulo (SP). "Queremos fazer um debate que atinja o povo brasileiro em particular a juventude. Vivemos uma grave crise de modelo de desenvolvimento e o projeto do atual governo é de destruição da classe trabalhadora".
 
Em suas considerações finais, Alexandre Pires colocou a ASA à disposição para construção do Fórum.