Nesse 1º de maio, milhares de trabalhadores e trabalhadoras rurais foram às ruas para dizer não à reforma da previdência e sim à garantia dos direitos. E as mulheres rurais também levantaram a voz para anunciar a Marcha das Margaridas, prevista para acontecer entre 11 e 13 de agosto deste ano. Quem conversou com a Assessoria de Comunicação da ASA (ASACom) sobre esses assuntos foi a Diretora de Mulheres da Confederação Nacional dos Agricultores e Agricultoras (Contag), Maria José Morais, mais conhecida por Mazé.

1. Qual a sua avaliação desse dia do trabalhador e da trabalhadora?

Pra mim, enquanto diretora de mulheres da Contag ontem foi um dia muito importante [1º de maio], o dia da trabalhadora/trabalhor rural, da classe trabalhadora e que o Brasil todo, em diversos estados, estavam fazendo atos muito importantes na luta, atos de luta e resistência e aí acho que é fundamental a gente trazer esse destaque que as mulheres também estavam na linha de frente desses atos e um dos pontos centrais da maioria dos atos era a questão da reforma da previdência, a medida provisória 871. E um outro ponto era o chamamento pra Marcha das Margaridas, que ao mesmo tempo que a gente estava na rua denunciando todo esse retrocesso que tá acontecendo no nosso país, a gente também tava anunciando o que vai acontecer, que as Margaridas vão continuar na luta, que as Margaridas vão continuar na resistência contra a proposta da reforma da previdência, contra a Medida Provisória 871 que ela também passa fortemente na vida das mulheres, e dizer que nós vamos estar aqui e que nós vamos enterrá-la de vez na Marcha [das Margaridas], em agosto. Essa proposta não é uma proposta de reforma, mas sim de retrocesso, de retirada de direitos da classe trabalhadora, mas que impacta fortemente na vida das mulheres em tudo, desde a saúde, a alimentação, a sua aposentadoria, de políticas. Em tudo a reforma da previdência nos atinge, porque somos nós, são as mulheres trabalhadoras rurais que têm acordado mais cedo, que têm tripla jornada de trabalho, tanto interna - dentro de casa, quanto externa - dentro do roçado, no seu quintal. Eu avalio como positivo que em vários municípios, estados do nosso país tiveram atos importantes de resistência e de luta. Nós não vamos nos calar. Falamos nesses atos nos municípios para os vereadores, para os prefeitos. Nos estados para os governadores. Porque é fundamental fazer pressão para que essas pessoas pressionem também seus deputados federais no sentido de não votar a favor dessa reforma da previdência. Eu participei de um ato no estado do Piauí onde a gente teve paradas na frente da Câmara Legislativa e na Câmara Municipal, onde fomos recebidos. Entregamos documentos e várias outras companheiras participaram de atividades descentralizadas em outras partes do país. (…) Ao mesmo tempo, também veio com uma voz muito forte, anunciando e convocando todo município a se juntar e coroar de fato, dias 13 e 14 de agosto esse grande momento em Brasília [referindo-se a Marcha das Margaridas], essa que é a capital do país, é aqui que tá o centro do poder, então pra gente vai ser um momento fundamental de diálogo, onde a gente tá nesse processo de formação, dizendo pras companheiras olharem os nossos eixos temáticos, onde um deles é a questão dos direitos previdenciários, mas tem também os direitos sociais, o direitos à saúde, à educação... Então pra gente foi um momento de fato importante. Eu avalio como muito positivo, a coragem, a resistência da nossa classe trabalhadora sobretudo das nossas mulheres de ir à rua, porque ontem de fato foi um dia muito simbólico, é o dia de parabenizar a coragem dos nossos trabalhadores, a luta, mas também a nossa ousadia, por estarmos na rua, na resistência, contra todas essas formas de retrocesso que estão na nossa sociedade. Contra esse machismo, contra o conservadorismo, conta a violência contra as mulheres que tem cada vez mais aumentado no nosso Brasil e na nossa sociedade. Então a gente foi, as Margaridas foram às ruas, denunciar tudo isso que está acontecendo no nosso país. As Margaridas na luta por um Brasil, sem dúvida, com soberania popular, com democracia, na luta por justiça, por igualdade e, é claro, livre de todas essas formas de violência que estão cada vez mais impactando na vida das nossas companheiras tanto na cidade, quanto no campo.
As Margaridas gritavam com muita coragem na sua fala que “a previdência é nossa, ninguém tira da roça”, que nós vamos continuar firmes nessa grande luta na defesa dos nossos direitos. Nenhum direito a menos. Continuaremos firmes segurando uma na mão da outra e não é esse governo que vai nos vencer e nos calar de forma alguma. Vamos continuar nessa luta, nessa ousadia, na cidade e no campo, na rua, que é o nosso lugar, mais do que nunca é estar na rua nessa resistência que vem de dentro da gente, que a gente ao longo desses anos tem sempre sido a resistência. As mulheres têm sido a resistência, então vamos continuar resistindo a tudo isso e propondo, claro, um modelo de sociedade que nós merecemos e que o Brasil precisa avançar cada vez mais. Então é isso, eu avalio de forma muito positiva as movimentações, os atos, as caminhadas, que foram feitos durante o dia ontem, o dia 1º de maio, o dia do trabalhador e da trabalhadora rural, o dia da classe trabalhadora, um dia de muita luta e de muita resistência de todas e de todos nós.

2. Já que você falou em Margaridas, como estão os preparativos para a Marcha?

A gente fez agora um material que é importante para o processo que a gente está chamando de formação. Estamos trabalhando os eixos temáticos da Marcha das Margaridas e esse material trata dos 10 eixos especificos, mais detalhado, e ele vai subsidiar os debates, os diálogos, as conversas, as reuniões, as plenárias, os encontros e seminários que vão acontecendo daqui até a Marcha das Margaridas. Nenhuma das Margaridas virá até aqui em Brasília sem saber o que é que vem fazer, mas que elas venham com a consciência de dizerem: “ah, eu venho aqui em Brasília porque eu sou contra a violência e por isso, por isso”, “eu vou pela questão da democracia”, “eu vou em Brasília pela questão da terra, da agroecologia, porque eu defendo a sociobiodiversidade”, enfim são os eixos da Marcha. Então nesse momento a gente tá num processo muito intenso de formação e mobilização aonde a gente quer que não fique nenhuma mulher nesse Brasil sem saber o que é a Marcha das Margaridas e porquê a gente está aqui em Brasília fazendo esse momento de resistência e de luta e de coroação.

A marcha já está acontecendo em diversos territórios rurais, regionais, mas ela, vamos dizer, se coroa nesse momento. Esse processo de formação e de mobilização que a gente tá agora animando a mulherada a vir, encorajando cada uma, nos fortalecendo, uma animando a outra, uma ajudando na questão financeira da outra pra poder vir, sabendo porque a gente tá nessa luta, porque que a gente deixa lá o nosso filho, nosso marido pra vir aqui em Brasília.

3. Como a população pode contribuir com a Marcha?

A partir da próxima semana entrará no ar uma campanha de financiamento coletivo que será disponibilizada na internet, a partir do site das organizações e também das redes sociais, onde todo mundo poderá contribuir com a ida de uma Margarida para Brasília, em agosto. Também é fundamental que as pessoas ajudem na divulgação para que nossa campanha seja exitosa.

O material contendo os eixos da Marcha pode ser baixado no site da Contag: www.contag.org.br