O bioma Caatinga está presente em 92% do território cearense. No momento, a região, que abriga no Ceará três milhões de habitantes, vive uma das piores estiagens dos últimos 40 anos, comprometendo muito os recursos naturais e a vida da população, em função da quebra da safra.
"A estiagem é um fenômeno cíclico", observa Carlo Rodrigo Castro, secretário executivo da Associação Caatinga, afirmando que, nesses períodos, o corte de lenha é maior, justificando que as pessoas precisam sobreviver. A situação econômica dos agricultores piora nesse momento.
O corte de lenha ainda é uma das fontes de renda dos agricultores que vivem na Caatinga, daí a importância do incentivo aos planos de manejo. Alerta para a da indústria da cerâmica, presente em 101 dos 184 municípios cearenses.
Os planos de manejo para extrair lenha de forma sustentável consistem em cortar a mata em talhões, retirando da Caatinga e dando tempo para se recuperar. "A exploração da Caatinga deve ser feita de forma sustentável", pondera. Hoje, grande parte da lenha queimada vem de fonte clandestina, sem certificação, não legalizada".
O polo gesseiro, outro ramo econômico a explorar o semiárido nordestino, demanda muita lenha, assim como o da cerâmica e são fontes de renda da região, daí a importância do manejo sustentável.
Carlos Rodrigo Castro afirma que "estamos levando algumas propostas para a Rio+20", completando que foram realizados eventos preparatórios para a Conferência das Nações Unidas (ONU). As principais reivindicações da população que vive no bioma Caatinga, estimada em três milhões, é quanto à ampliação das áreas protegidas e o incentivo aos proprietários que cuidem da preservação.
"Queremos apoio para conseguir a ampliação das áreas protegidas". No Estado, 40% da Caatinga está degradada e apenas 1,4% conta proteção integral, contra 7,5% não integral.
Essas áreas verdes, além de gerar água para as cidades, servem de recargas para os açudes possibilitando a recuperação de dois processos graves, desertificação e desmatamento.
O aquecimento global está fomentando esses níveis de degradação, reconhecendo que a temperatura da região pode aumentar entre dois a cinco graus.
O aquecimento global traz desafios para a coabitação devido à aridez, gerada pela dificuldade de água. É grave a situação, porque a falta de cobertura vegetal, afeta o clima da região, afirma Carlos Humberto Campos, coordenador executivo da Articulação no Semiárido (Asa), entidade, criada durante os debates realizados pela sociedade civil na Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas para Combate à Desertificação (UNCCD), em 1999.
Atualmente, existem 750 organizações que atuam no semiárido. Cita como um exemplo de ação concreta o Programa 1 Milhão de Cisternas, afirmando ter avançado muito. "A cisterna não é o fim, mas o meio", diz. Traz embutido todo o processo de formação, organização e convivência na comunidade.
Existem atualmente 350 mil famílias com cisternas no País, o que significa que dispõem da primeira água, ou seja, para o consumo humano. Mas é preciso produzir alimentos, destaca, afirmando que, na Caatinga, a concentração da terra é uma questão fundamental. "Preservar a Caatinga é tornar o Semiárido sustentável, é garantir terra para quem precisa da terra". A segunda parte do programa, o P1+2 (Programa Uma Terra e Duas Águas), sendo uma água para consumo, e, outra, para produção de alimentos.
A dificuldade é garantir água e terra no bioma Caatinga. A invasão desse bioma é preocupante. O grande desafio é fazer com que as famílias tenham acesso à terra. Quem cuida da terra da Caatinga são os agricultores.
"Não podemos desconsiderar a negligência do Estado e dos gestores públicos", critica. Rodrigo Castro, lembra que a "Caatinga é também uma floresta, mas que mudou muito. Existem locais que testemunham o que ela já foi um dia. A desertificação e a degradação dificultam a captação de água pela Caatinga".
As mudanças climáticas e aumento da temperatura devem agravar a desertificação. Os locais degradados vão ficar ainda piores. As capitais do Nordeste, com exceção de Teresina, ficam no litoral. Mas a água que abastece Fortaleza é captada no semiárido.
Mudanças
750 é o número de organizações sociais que atuam, hoje, no semiárido. Elas trabalham na conscientização das populações sobre as possibilidades da região
350 mil famílias contam com cisternas de placa no País, o que significa que possuem a primeira água, ou seja, para o consumo, faltando para a produção
O desafio de conviver com as adversidades
Conviver com a adversidade. Esta parece ser a sina da população que habita o semiárido brasileiro e abriga o bioma Caatinga. Desde cedo, aprendem a lidar com muitas dificuldades, sendo uma das principais: a seca, cujos primeiros registros datam da colonização, no Século XVI.
As tecnologias sociais, a exemplo das mandalas, têm mudado as práticas dos agricultores familiares em relação ao uso dos recursos Foto: Cristiane Vasconcelos
Após um modelo quase secular, que tinha como princípio a luta contra o fenômeno seca, hoje, a compreensão é diferente, sobretudo quando entram am cena as chamadas tecnologias sociais. O Programa de Formação e Mobilização para a Convivência com o Semiárido Um Milhão de Cisternas Rurais (P1MC), criado em 2003, é exemplo dessa mudança de modelo.
Não tem a finalidade apenas de estocar água, mas de fazer com que as famílias despertem para pensar o semiárido como possibilidade. Os modelos foram multiplicados e surgiram outras, como os quintais produtivos, as mandalas e projetos que visam a fixação das populações. Alguns saíram do movimento social e de Organizações Não-Governamentais (ONGs) e foram encampados pelos governos. Outros acontecem em parceria.
Este é o caso do projeto Mata Branca, cujo trabalho é focado em ações do uso sustentável do bioma Caatinga. As experiências estarão presentes na Rio+20 por meio de representantes do Conselho de Políticas e Gestão do Meio Ambiente (Conpam), explica Tereza Farias, coordenadora de projetos especiais.
No dia 18, no Parque dos Atletas, às 16h, acontece a leitura da "Declaração da Caatinga", documento aprovado na I Conferência Regional de Desenvolvimento Sustentável do Bioma Caatinga, realizada no Banco do Nordeste (BNB), em maio, fruto de um ano de trabalho.
A Carta da Caatinga formaliza compromissos para a promoção do desenvolvimento sustentável desse bioma.