Nossos ancestrais já tinham o hábito de se abrigarem ao redor das fontes de água, onde construíam a fogueira, e ao seu redor contavam suas histórias e planejavam a caminhada em busca de terras férteis que lhes proporcionasse alimento e melhores acomodações. Seguindo os rastros de nossos ancestrais, continuamos tendo a água como o ponto de partida para outras conquistas, a fogueira foi adaptada, e hoje, no Semiárido, é ao redor da cisterna que bebemos água, que matamos as diversas sedes. É ao redor da cisterna que propomos a organização comunitária, discutimos as nossas dificuldades e soluções e nos preparamos para as nossas lutas.
De 18 a 20 de maio foi a vez da comunidade Mosquito, no município de Itaueira/Piauí, se sentar ao redor da cisterna para partilhar os problemas e também os caminhos da comunidade em abordagens e discussões de assuntos como: água no planeta Terra e o nosso solo, agroecossistema, alternativas de convivência, segurança alimentar e hídrica; mercado justo e solidário: Economia Solidária, PAA e PNAE; agroecologia, Gênero e sexualidade, identidade, geração, raça e etnia e as ameaças dos grandes projetos econômicos. Essas temáticas foram debatidas no curso de Gestão de Água para Produção de Alimentos (GAPA).
O GAPA é uma das etapas de grande importância do Programa Uma Terra e Águas (P1+2), pois traz como proposta reunir as famílias que conquistaram as tecnologias do programa, durante três dias, para trocar experiências e conhecimentos sobre a gestão da água que chega para produção de alimentos e segurança alimentar e nutricional de homens e mulheres do campo. Nesse sentar-se em torno da construção da cisterna, as comunidades se organizam na construção coletiva de uma sociedade do bem viver, a partir das partilhas, da riqueza de suas histórias, da contação de histórias sobre suas realidades.
A comunidade Mosquito é formada por remanescentes de povo negro, mas que ainda não se autorreconhecem como quilombolas. Nas expectativas levantadas no primeiro dia de curso pelos participantes, as palavras mais citadas foram: parceria, transparência, construção, organização, mutirão, melhoria de vida, renda, água, produção. O GAPA traz a abordagem da produção de base agroecológica a partir do acesso à água para produção de alimentos (segunda água). A agroecologia é vista como grande rio que mata as sedes e fomes dos povos que adotam os princípios agroecológicos em suas singularidades e diversidades para a manutenção da vida.
Nesta nova etapa, que conta com a parceria do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o P1+2 traz uma novidade que é o componente Fomento Produtivo, com o objetivo de fortalecer a produção de base agroecológica das agricultoras e agricultores familiares.