“O Território como caminho para Agroecologia”. Foi com esse tema que a Tenda de Convergências Agroecológicas abriu sua programação, ontem (14/03), no Fórum Social Mundial, em Salvador, Bahia. O objetivo foi iniciar uma reflexão sobre as potencialidades dos povos do campo e da cidade que desenvolvem práticas agroecológicas como modo de vida na construção de diferentes territórios.

Para Carlos Eduardo Leite, coordenador do Serviço de Assessoria a Organizações Populares Rurais (Sasop) e representante da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), a agroecologia permite a construção de um modo de vida. “É a dimensão humana e da natureza, que vai além da concepção da produção de alimentos, tanto no campo, como na cidade”, explica.

Segundo Caê, como é conhecido, ainda permanece o desafio de se construir uma governança nos territórios que ajude a pensar o enfrentamento das denúncias. Entretanto, algumas experiências já mostram caminhos para essa construção, a exemplo das formas organizadas de economia em rede. “As redes de comercialização e economia justa e solidária já são um grande número, tanto na Bahia, a exemplo das feiras agroecológicas em Jacobina, como em outros estados, como a Rede Ecovida, na região Sul do país. O caminho da agroecologia é a nossa aposta e isso só acontece a partir do fortalecimento das experiências concretas. Não há como construir um território da agroecologia sem enfrentar o agronegócio.”, afirma.

É nesse sentido, de acordo com Caê, que está sendo preparado o IV ENA (Encontro Nacional de Agroecologia), trazendo um diálogo entre os territórios do campo e da cidade e colocando a construção do conhecimento, a cultura e a comunicação como um direito dos povos.

Valda Aroucha, representante da Assessoria e Gestão em Estudos da Natureza Desenvolvimento Humanos e Agroecologia (Aghenda) e integrante da Articulação de Agroecologia na Bahia (AABA), também compôs a mesa e ressaltou que, para pensar no território agroecológico, é preciso ir além do aspecto geográfico e político. “Como pensar território, sabendo que tem 815 milhões de pessoas com fome no mundo? Para construir agroecologia num território, é preciso pensar a segurança alimentar e nutricional das famílias, o consumo infantil, a juventude, que representa o maior grupo etário no campo (27%). Pensar ainda o ecofeminismo, porque as mulheres são sempre as mais afetadas pelas crises. Pensar a dimensão humana, o comércio justo, a construção do conhecimento e a cultura. A Agroecologia é sistêmica, vai além dos cultivos vegetais, e precisamos buscar um equilíbrio entre tudo isso. Por isso precisamos fazer uma integração das políticas públicas porque elas ainda são fragmentadas”. “Precisamos construir os territórios a partir das identidades dos povos e as políticas que devem levar isso conta”, complementa Caê.

A Tenda de Convergências Agroecológicas está localizada no estacionamento do Instituto de Matemática/PAFI/Campus de Ondina, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), e segue até o dia 17 de março (sábado), como parte da programação do Fórum Social Mundial. As ações da Tenda estão sendo organizadas por entidades que integram a Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA), a Articulação de Agroecologia na Bahia (AABA) e o Fórum Baiano da Agricultura Familiar (FBAF).

FSM 2018 - O Fórum Social Mundial está reunindo mais de 50 mil pessoas de 120 países para discutir e definir alternativas de enfrentamento ao neoliberalismo, aos golpes antidemocráticos e genocidas que diversos países vem enfrentando nos últimos anos. Com o lema “Resistir é criar. Resistir é transformar”, o evento irá reunir as principais lideranças sociais e políticas.